Do g1
Foto: Arquivo pessoal
A primeira surda a concluir um doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) só foi descobrir que tinha deficiência auditiva após ser reprovada cinco vezes no ensino fundamental.
“Não entendia a razão daquilo, já que eu era assídua e caprichosa. Só mais tarde compreendi que eu não conseguia discriminar palavras como bala e mala, nem meus professores desconfiaram da minha deficiência”, disse Michelle Andrea Murta, de 40 anos, em entrevista feita por escrito ao g1 Minas.
A mãe dela e 80% de seus parentes também são surdos. Mas ela só foi aprender a Língua de Sinais depois de concluir o ensino médio, aos 23 anos. Até então, ela entendia o que os outros falavam “lendo” sua expressão facial.
Michelle então passou no vestibular para letras/libras na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela se formou em 2012 e logo iniciou o mestrado, concluído em 2015.
“No mesmo ano, comecei a atuar como professora na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mas queria muito voltar a BH, onde estavam meu filho e meu companheiro. Então, me dediquei muito e fui aprovada em primeiro lugar no concurso para docente da UFMG”, contou.
Em 2018, ela ingressou no doutorado. A professora defendeu a tese no dia 18 de janeiro de 2022, na área de estudos linguísticos.
“Tem horas que peço alguém para me beliscar, ainda estou sem acreditar. Ainda fico pensando: eu consegui? Fui eu mesma? Ainda estou extasiada sem acreditar, aos poucos a ficha vai caindo”, disse ela.
Planos de inclusão
A professora e doutora tem planos também fora das salas de aula.
“Sou uma pessoa muito ansiosa, fico querendo fazer de tudo. Eu tenho o projeto “Literatura Surda: experiência das mãos literárias”, com o foco de levar a literatura para todos. Meu sonho é aperfeiçoar mais, ter equipamentos específicos para fazer registro e edição para melhorar o projeto”, contou.
O outro projeto da Michelle é a formação de professores de Língua de Sinais.
“O objetivo é chegar às pessoas de áreas mais afastadas e que não conseguem formação para trabalhar com alunos surdos”, falou ela.