
Por Maria Edvirgem, escritora e professora
Revisitando os canteiros do passado, encontrei uma flor chamada saudade, lembrei que compunha a paisagem nos arredores da minha infância, mas como foi em tempos longínquos, a memória olfativa e visual não favorece aos detalhes. Numa breve pesquisa descobri que a variedade de nomes que recebe é tão diferenciada quanto a paleta de cores, contrastando com o odor doce, simples e inconfundível.
Reza a lenda que na Europa era usada por parentes para homenagear seus entes queridos que faziam a passagem, então era chamada de flor de papel, flor de estrela, flor de viúva ou suspiro. Os primeiros nomes, acredito, que referem-se ao formato, a aparência, a textura, uma bela referência aos luminosos astros. Já os últimos, fazem alusão, ao desamparo, ao lamento e solidão, que traz uma viuvez: “Vestem-se de negro, se encolhem, se conformam e se recolhem…” ou sussurram seus tantos ais.
Dizem ainda que é de fácil cultivo, cresce até em solo pobre e seco de beira de estrada, mas se adubada torna-se esplendorosa. Também floresce no verão e atrai borboletas, mas resiste até as temperaturas mais baixas, representando a sensibilidade, que é peculiar, tal qual o jeito de cada um responder aos estímulos, e “rir seu riso e derramar seu pranto . “Presume-se que exala seu perfume em todas as estações e invade o ar, de modo suave ou arrebatador, que aproxima ou distancia.
Geralmente apresentam-se em touceiras, silvestres ou ornamentais, roxas, azuis, rosadas brancas, vermelhas ou até mesmo pretas, de acordo com a intensidade que as sensações e emoções se manifestam. Assim, minha vida é um imensurável plantio dessas flores, de tão diversificadas, coloridas e cintilantes, mais parece um caleidoscópio.
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Às vezes ainda me encontro sentada naquela calçada, olhando o estreito caminho que precisava percorrer, outras, olho para trás tentando rever o trajeto que fiz, os atalhos que peguei e o momento que deixei ou fui deixada ao longo dessa jornada. O desejo que sinto é de aprisionar o tempo, como faço com as lembranças. Sinto falta de pessoas e tempos idos, do que foi vivido ou deixado de viver, de conversas banais, de encontros furtivos, de promessas feitas, nem sempre cumpridas, de lugares comuns, de mim mesma, do que quis ser e não fui.
De todas as formas, nomes e características, em sentido conotativo, a flor ressalta de forma íntima, única é intransferível, os sentimentos que a saudade faz aflorar, em todo e qualquer coração, dotado e passível de amor e recordações. “A gente ri, a gente chora.”
Minha vida é uma plantação de saudades!
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