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Para os haitianos que vivem no Brasil, acompanhar as notícias sobre a tragédia humanitária do Haiti após a passagem do furacão Matthew e não conseguir ajudar os familiares deixados no país é a parte mais difícil. Desconfiados da ação de organizações não governamentais desde o terremoto de 2010, muitos dos que estão no Brasil tentam, até mesmo de formas bem simples, dar o mínimo suporte aos familiares.

Entre os que estão tentando se mobilizar para ajudar os parentes está o estudante Jean Ricardo Jules, 35, mestrando da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, que perdeu dois familiares na passagem do furacão. Especialista em Entomologia Médica, o haitiano tenta angariar fundos e voluntários ligados aos setores de saúde e construção civil para reconstruir e auxiliar as vítimas de doenças da comunidade em que vivem no Departamento Sul do Haiti, onde ele cresceu e seus pais estão desabrigados.

Jean Jules não conseguiu contato com a família desde a tragédia. Teve notícias do pai e da mãe, com 67 e 65 anos, apenas pela irmã, que conseguiu chegar até a casa em que eles viviam depois que ONGs e o governo abriram novos acessos –pontes e estradas foram destruídos na passagem do furacão. Seus pais estão vivendo nos escombros da casa em que moravam, que perdeu o telhado na tragédia. A irmã de Jean conseguiu levar alguns alimentos e roupas secas, já que tudo o que o casal tinha ficou molhado.

“O teto caiu completamente, e eles deram um jeito de ficar, não tinham para onde ir. Só que se voltar a chover, não dá para continuar na casa. A gente torce para o tempo continuar firme, com sol. Nos dias após o furacão, não teve muito sol, e aí as roupas não secaram. Eles não têm nem roupas limpas para usar”, diz Jean Jules.

“Consegui arrecadar US$ 200, que enviei para a minha irmã para ajudá-los. A situação deles me deixa triste demais, é duro pensar na forma como estão vivendo. Não os vejo há três anos, e sei que a minha presença agora seria muito importante para eles. Mas a passagem é muito cara, e vivo como bolsista no Brasil, com minha mulher e minha filha de 2 anos, pago aluguel. É muito difícil”, contou em entrevista ao UOL.

Jean Jules gravou áudios para enviar aos amigos por WhatsApp e fez posts nas redes sociais em uma tentativa de conseguir ajuda financeira para reconstruir a casa dos seus pais e da comunidade em que eles vivem. Muitos oferecem roupas e alimentos, mas o transporte desse material por conta própria é uma missão impossível. “Só posso levar uma mala, isso não é suficiente para todos que precisam de ajuda”.

Agora, ele busca o apoio de alguma ONG ou entidade interessada em ajudá-lo com a logística para levar não só as doações, mas principalmente os voluntários. “A ajuda destas grandes organizações se concentra nas cidades. Nunca chega nada para os que vivem na roça. Ainda mais agora que nem estrada tem”, afirma Jean Jules. “Minha preocupação é que, como nesta área não tem nada, já esperamos a seca, a falta d’água, a fome e as epidemias”.

Do Portal Uol