Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Por Paulo César Gomes, Professor, historiador e escritor, colunista do Farol

Na madrugada do dia 30 de agosto de 1993, uma segunda-feira, entrou para a história como uma das maiores tragédias musicais do estado de Pernambuco. O cantor e compositor Ricardo Rocha, de apenas 23 anos, perdeu a vida após sofrer um choque elétrico durante apresentação da banda D.Gritos, na Praça Sérgio Magalhães.

Continua depois da publicidade

Receba as manchetes do Farol de Notícias em primeira mão pelo WhatsApp (clique aqui)

O acidente, presenciado por dezenas de pessoas, expôs falhas graves na estrutura do evento, como a ausência de ambulância no local e a precariedade das instalações elétricas do palco. Apesar da gravidade, o caso não ganhou repercussão estadual, em parte devido a interesses políticos que tentaram abafar a tragédia.

Léo de Teté, Ricardo Rocha, Ray, esposa de Ricardo (Célia), Jeovane Ferraz e Léo Godoy durante a Festa de Setembro de 1992 – Foto: Reprodução

A noite que terminou em luto

O cantor Léo Godoy, amigo próximo de Ricardo, estava na plateia na hora do acidente e relatou, em entrevista, os momentos de tensão vividos naquela noite. Segundo ele, o show da banda D.Gritos havia sido transferido para o dia 30 devido a uma forte chuva, alterando a programação da tradicional Festa de Setembro.

“Ricardo estava botando pra lascar, cantando com muita energia, a banda afinada, o público vibrando. Tudo estava perfeito”, recorda.

O clima de celebração foi interrompido de forma brutal. Enquanto cantava, Ricardo encostou a mão esquerda em uma grade metálica na frente do palco, recebendo a descarga elétrica. “Ele começou a virar de lado, foi caindo… O pessoal percebeu o que estava acontecendo”, disse Léo.

Toninho, baixista da banda, ainda tentou desligar a energia arrancando cabos da central elétrica, mas também sofreu choques.

Continua depois da publicidade

O cantor foi retirado desacordado e levado para o Pronto Socorro São José, do médico Dr. Zé Alves. Dr. Barbosa Neto foi quem prestou os primeiros atendimentos e confirmou o óbito por choque elétrico e parada cardiorrespiratória. Chegou a circular a notícia de que Ricardo teria reagido, o que levou o público a comemorar por alguns instantes. No entanto, minutos depois veio a confirmação da morte.

“Ali foi um vacilo do eletricista. Foi um fio desencapado que encostou no palco e terminou causando essa tragédia. Um descaso mesmo”, lamenta Léo, emocionado.

Foto: Reprodução

Os principais fatos de Serra Talhada e região no Farol de Notícias pelo Instagram (clique aqui)

A dor dos amigos e a memória de Ricardo Rocha

Outro amigo, o músico Humberto Cellus, relembrou a convivência com Ricardo, a quem chamava carinhosamente de “Cabeção”.

“Ricardo era dessas pessoas que encantavam só de chegar — com aquela vontade enorme de viver da arte, de compartilhar, de brincar com tudo, inclusive com ele mesmo”, disse Humberto.

Ele contou que, nos anos 1990, os dois costumavam se reunir na Rua Sete de Setembro, hoje Rua do Tiro de Guerra, para tocar violão, conversar e sonhar com a carreira musical.

Continua depois da publicidade

Beto recorda, emocionado, a última fase da vida do amigo: “Ricardo estava feliz — tinha feito a gravação do terceiro disco com a banda D.Gritos, em Recife. Estava animado, realizado. Deixou lá em casa as letras das músicas e disse: ‘Aqui estão as letras do disco. Completa o trabalho.’ Ele tinha orgulho do que fez. Merecia ver tudo aquilo acontecer.”

Além da carreira, Ricardo dedicava-se à família: a esposa, a mãe e a filha pequena, citada sempre com brilho nos olhos. “Tudo que ele fazia era por elas”, acrescentou Humberto.

Uma perda que deixou marcas

A morte de Ricardo Rocha não foi apenas a perda de um jovem talento, mas também a interrupção de uma promessa musical que já se consolidava na cena cultural do sertão pernambucano.

Mais de três décadas depois, amigos e admiradores ainda mantêm viva a lembrança de sua voz, seu carisma e sua paixão pela música. A tragédia de 1993 permanece como um alerta sobre os riscos da negligência em eventos públicos, mas, acima de tudo, como um marco de saudade na história cultural de Pernambuco.