Tradição resiste há mais de 130 anos em ST

Publicado às 05h37  desta quarta-feira 916)

Tauapiranga é o sexto distrito de Serra Talhada e conserva a tradição do São João há 135 anos. A vila que nasceu de uma promessa para o santo que carrega seu nome com orgulho, e sua marca registrada ficou por São João do Barro Vermelho. A festa é tradicional e por muito anos lotou a vila, em 2021 será o segundo ano sem festa, mas a tradição não pode parar. Na última segunda-feira (14), como em todos os anos,  a bandeira de São João foi hasteada e seus devotos rezaram o terço.

O Farol conversou com Rita Gomes, 70 anos, ministra da palavra da capela de São João Batista no sexto distrito sobre a tradição do local.

Todos os anos, no dia 14 de junho, a bandeira de São João Batista é hasteada em Tauapiranga e então a novena é iniciada, antes da pandemia eram 11 dias de festas e muita devoção. Rita Gomes, mais conhecida como Ritinha, é uma das devotas mais conhecida da região. Ela explicou como o evento está sendo feito durante a pandemia.

“Nosso padroeiro é o glorioso São João Batista, que chegou aqui há 135 anos, na terra do São João do Barro Vermelho. Aqui todos têm uma grande devoção, amor, respeito e admiração por ele. Nesse período de pandemia nós não estamos rezando na capela, combinado com o nosso pároco, o padre Josenildo. São nove noiteiros e o novenário é na casa dos noiteiros, como não pode ter aglomeração, cada noite o novenário será na casa da família daquele noiteiro, porque nós não podemos estar na igreja e o padre determinou assim. Graças a Deus nós vamos fazer com muita esperança e devoção para dar continuidade aos festejos  do nosso glorioso e padroeiro São João Batista. A bandeira foi hasteada no dia 14, rezamos no local e ninguém ficou em aglomeração, foi muito bonito”, explicou.

É o segundo ano que não se comemora a festa de São João em Tauapiranga, para Rita e todos os devotos da vila é uma tristeza, pois a saudade de ter a capela e as ruas cheias de gente, o povo rezando, cantando e chorando na mesma sintonia de fé é imensa. É a época do ano em que os filhos da terra voltam a sua origem e se unem pela fé.

“É mais um ano de muita angústia, e tristeza, porque a nossa festa é uma festa de grande porte, sempre vinha muita gente, mas, sabemos que não podemos fazer como era antes, esse ano fizemos como foi feito ano passado. É muita tristeza, porque a gente vê uma capela cheia, todo mundo fervoroso, todo mundo rezando e de repente a gente não poder fazer nada disso, é constrangedor. O padre combinou assim, são 3 capelas que pertencem a matriz da Penha, que é a daqui, uma no Ipsep e no Baixio do Carnaúba, ele vai celebrar a missa on-line e a gente assiste em nossa casas”, relatou acrescentando:

“Somos devotos, é muito amor que nós todos temos e nossa festa se tornou uma festa grande, porque todos os filhos dessa terra que moram distante, em várias capitais do Brasil, tem pessoas daqui e em outras cidades também e nesse período eles estão conosco festejando aqui. Tenho esperança quem em 2022 a gente possa voltar a festejar como antes, se Deus quiser, vamos fazer uma corrente de fé e de oração. Sinto muita saudade da festa.”

O INÍCIO DA TRADIÇÃO 

Tradição resiste há mais de 130 anos em STJoão Gomes da Cruz Limeira, primeiro proprietário das terras,  se viu em uma situação muito agoniante, perdendo seu gado, então decidiu se apegar ao São João Batista e lhe prometeu uma capela e terras. A promessa foi cumprida e desde então nunca mais se passou um ano sem que o São João fosse comemorado em Tauapiranga.

“João Gomes da Cruz foi um grande pecuarista e ele fez uma promessa com São João Batista, o gado dele estava morrendo, deu uma pandemia grande e eles estavam morrendo e ele fez a promessa se o gado dele escapasse ele ia fazer uma capela, colocar o santo João Batista e ia doar o patrimônio, se firmou patrimônio, São João Batista tem muita terra aqui. De comprimento são 6 quilômetros e de largura são 53 braças. A terra é o seguinte, muita gente que não tem onde morar pediu ao padre da época, que era Padre Egídio, que hoje é nosso bispo, ele concedeu para essas pessoas construírem as suas casas lá no patrimônio, então muita gente hoje mora no patrimônio de São João Batista”, ressaltou Ritinha acrescentando:

“O senhor João Gomes da Cruz Limeira doou o patrimônio de São João Batista , foi uma doação, eu tenho tudo documentado, este documento era guardado na casa de minha bisavó, Maria Senhora do Carmo e antes de minha última tia falecer ela me entregou e eu guardei na minha casa com todo carinho.”

SÃO JOÃO DO BARRO VERMELHO OU TAUAPIRANGA

O primeiro nome do distrito foi São João do Barro Vermelho, já recebeu o nome por conta do santo, mas, em meados do século 20 o jornalista e historiador Mário Mello modificou para Tauapiranga, por ser um nome Tupi-Guarani. “Antigamente o primeiro nome foi São João do Barro Vermelho, aí o jornalista Mário Mello andou mudando o nome de uns distritos e colocou umas palavras Tupi-Guarani que tem o mesmo significado, ‘Tauá’ significa barro e Piranga significa vermelho”, explicou Ritinha.

O distrito que hoje tem por volta de 2 mil pessoas, sendo 1.300 eleitores, conserva a capela com muito carinho, assim como santo, que veio de caçuá lá de Alagoas e um cálice encantador que permanece na capela até os dias de hoje. Terra de barro vermelho, de gente trabalhadora e de muitos devotos, o fervor dos moradores da vila é impressionante e o orgulho que eles têm de seu lugar é admirável. Que em 2022 as bandeirolas voltem a enfeitar as ruas, os devotos possam andar em sua procissão e que principalmente a fé não se perca em meio a tanto caos.

 

 

Tradição resiste há mais de 130 anos em ST

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