Por João Luckwu, poeta serra-talhadense

Publicado às 6h20 deste domingo (5) 

O “Momento Poético” de hoje faz uma viagem para retratar a beleza nordestina. O Nordeste é a região brasileira que possui o maior número de estados, ao todo, são nove: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Caracteriza-se como o berço da colonização europeia no país, uma vez que foi no Nordeste que ocorreu a descoberta do Brasil. Posteriormente, com a criação das capitanias hereditárias, Salvador foi a primeira capital do país e Recife a cidade de maior importância econômica.

O Nordeste também possui notoriedade pela sua culinária tradicional, em especial a sertaneja, formada através da influência das culinárias portuguesa, indígena e africana. Carne de sol, moqueca, vatapá, buchada de bode, acarajé, sarapatel, vaca atolada, angu, chambaril, manguzá, tapioca, pamonha, canjica, dentre tantas iguarias trazem um sabor característico da nossa culinária. Como matuto sertanejo que sou, descrevo em poesia o sabor deste tempero:

Pra você que aprecia uma lasanha
Yakisoba, chucrute ou caviar
É certeza você não encontrar
Lá na roça, pois sei que é coisa estranha
Só de ouvir o matuto se assanha
“Corre as léguas”! Sabor não provará
“Aí dento”! Exaltado ele dirá
Iguaria ruim não traz almejo
Meu cardápio matuto sertanejo
Tem angu, tripa assada e manguzá

O dialeto nordestino, variante da língua portuguesa, possui uma característica própria diferente das outras regiões do país. Habitualmente se usa abreviar as palavras e, com isso, muitas vezes criando novos significados. Vejamos: a expressão “oh gente!”, utilizada para enfatizar uma surpresa, foi transformada em “oxente” e posteriormente abreviada para “oxe”, utilizada para situações de não entendimento. Nesse contexto, enfatizamos o linguajar do roceiro sertanejo:

Comparando com seu dicionário
Você vai logo então se aperceber
Que o roceiro também sabe escrever
Do seu jeito fazendo um paritário
Espontâneo, sutil, sem formulário
Português se expressa “malemá”
Pesquisando talvez entenderá
Três palavras descritas sem traquejo
Meu glossário matuto sertanejo
Tem “oxente”, “prumode” e “coisa e tá”

Na cultura popular musical, destacamos os ritmos como o coco, xaxado, baião, xote, frevo, maracatu, bumba meu boi, tambor de crioula, dentre tantos. O forró através do xote, xaxado e o baião dita o ritmo na festa de São João onde o sertanejo agradece aos santos São Pedro pelas chuvas e a São João pela colheita na lavoura.

Tradicionalmente os festejos são realizados nos “arraiás”, espaço decorado com bandeirolas coloridas, balões e onde são erguidas as barracas e acontecem as quadrilhas, o casamento matuto e o arrasta-pé, também conhecido no linguajar sertanejo como “rela-bucho”. Entretanto, ressalta-se que os festejos juninos adentraram nos grandes centros com destaque para Caruaru em Pernambuco e Campina Grande na Paraíba. Dessa forma, assim dizemos:

A cadência dos passos ao dançar
Fortalece as nossas tradições
Pelos palcos, calçadas e salões
Corpo e mente em perfeito bem-estar
No balanço da arte popular
Predomina no Sul o vanerão
Parecendo o forró do meu sertão
Mas lhe falta o fungado e o molejo
Meu folguedo matuto sertanejo
Tem o xote, o xaxado e o baião

O Nordeste é um dos mais bonitos cartões postais do Brasil. A cultura, o turismo, a geografia, a culinária, a economia trazem uma linguagem peculiar que só o Nordeste tem. É algo que transcende a realidade e o imaginário de um poeta.

Meu Nordeste é por Deus abençoado
Natureza agradece de contente
Astro-rei a brilhar sempre envolvente
Nos trazendo um abraço acalorado
Pelas águas do atlântico é banhado
Com pureza de mar bem cristalino
Nove estados vão ser nosso destino
Nesse orgulho de ser “cabra da peste”
Vamos dar uma volta no Nordeste
Pra mostrar como é bom ser nordestino

PRIMEIRA PARADA – MARANHÃO

Maranhão se assemelha com o Norte
Com chapadas, florestas e cerrado
Babaçu a brotar por todo lado
Natureza agracia e dá suporte
Alumínio extraído em braço forte
Um sinal de progresso e de riqueza
Nossa língua é falada com nobreza
Tens no “reggae” um balanço que fascina
Os lençóis de brilhante areia fina
Dão um toque sublime de beleza

SEGUNDA PARADA – PIAUÍ

Piauí um recanto pré-histórico
“Capivara” um museu a céu aberto
Um oásis no meio do deserto
Descrevendo um cenário categórico
“Parnaíba” encontrando um mar eufórico
Percorrendo uma longa caminhada
Teresina a cidade planejada
“Cajuína” um conceito que emana
Patrimônio da história americana
Onde o homem primata fez morada

TERCEIRA PARADA – CEARÁ

Ceará de um povo hospitaleiro
És o berço lendário de Iracema*
Retratando Alencar* em seu poema
Um amor puritano e verdadeiro
No estiloso forró foi pioneiro
Tem humor esbanjando uma alegria
Suas praias são contos de magia
Juazeiro um portal da devoção
“Padim Ciço” abençoa em oração
Acolhendo seu povo em romaria

*José de Alencar, escritor, autor do livro “Iracema” (Iracema – Lenda do Ceará)

QUARTA PARADA – RIO GRANDE DO NORTE

Rio Grande do Norte na esquina
Belas dunas, falésias, cajueiro
Tens o sol a brilhar o ano inteiro
Refletindo o tom branco da salina
Os golfinhos sobrando adrenalina
Faz de “Pipa” um refúgio acolhedor
Mossoró a banhar com seu calor
Despertando um profundo bem-estar
Vem curtir a beleza potiguar
Desfrutando um cenário encantador

QUINTA PARADA – PARAIBA

Paraíba onde o sol chega bem perto
Lá na Ponta do Seixas logo cedo
Chico César a compor o seu enredo
Tambaú um tesouro descoberto
Traduzida na obra de Humberto*
Por bravura, coragem e destemor
A cultura aflorando com fervor
Tem forró em “Campina” o ano inteiro
Nos repentes de “Pinto do Monteiro”
Vai mostrando pro mundo o seu valor

* Humberto Teixeira, compositor de “Paraíba Masculina”, eternizada na voz de Luiz Gonzaga.

SEXTA PARADA – PERNAMBUCO

Pernambuco é cultura popular
Xote, frevo, baião, maracatu
Pra comprar: feira de Caruaru
Lá tem tudo que possa imaginar
Nossa arte aqui vou lhe apresentar
Jesus Cristo e o calvário da paixão
O vaqueiro, um herói com seu gibão
Pajeú borbulhando em poesia
O puxado do fole contagia
Festejando Luiz, “Rei do Baião”

SÉTIMA PARADA – ALAGOAS

Alagoas das praias de água morna
Tens da cana o sabor doce da vida
Descansar numa rede bem comprida
Se entregar pra curtir uma madorna
Visitou uma vez, sempre retorna
Procissão Bom Jesus dos Navegantes
Em “Piranhas” de areias escaldantes
Desfrutar o mais belo entardecer
Se aprochegue eu convido a conhecer
Um cenário de imagens fascinantes

OITAVA PARADA – SERGIPE

Vem Sergipe externando seu valor
São Cristóvão é cultura e tradição
“Pré-caju” carnaval e curtição
De janeiro a dezembro tem calor
Ver da “Praia do Saco” o sol se pôr
Num encanto infinito de beleza
“Velho Chico” a rolar na correnteza
Canindé no sertão é meu xodó
Passear pelos “cânions” em Xingó
E curtir o prazer da natureza

NONA PARADA – BAHIA

A Bahia dos santos e umbanda
Sincretismo a unir todas as crenças
Pelourinho foi palco de sofrenças
“Olodum” um projeto que comanda
Uma esteira de vime na varanda
Inspirando o poeta noite e dia
“Paulo Afonso” a gerar toda energia
O Brasil na história aqui nasceu
Só não vai com o “trio” quem já morreu
Carnaval trinta dias de folia

Este é o meu Nordeste. Uma região privilegiada pela natureza, com belas praias, culinária tradicional, cultura diferenciada e um povo hospitaleiro. Nesse contexto, faço um resumo poético desta viagem:

Passear por cenários deslumbrantes
Conhecer essa gente hospitaleira
Degustar manguzá no “mei” da feira
Tomar banho em piscinas escaldantes
Se arrepende quem não conheceu antes
E eu convido você a vir também
Pra curtir e amar como ninguém
A nobreza de um mar azul celeste
Foi tão bom passear pelo Nordeste
Que já penso em voltar ano que vem

João Luckwu – Serra Talhada-PE