Mutirão

Casas estão sendo concluídas pelos próprios moradores num projeto orçado em mais de R$ 6 milhões, mas que estranhamente nunca terminou

Mais uma vez cansadas de esperar por uma ação governamental, cerca de 14 famílias de trabalhadores ocuparam casas inacabadas no Mutirão, bairro de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Serra Talhada, num projeto de urbanização orçado em mais de R$ 6 milhões, com recursos oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tocado pelo Governo de Pernambuco. O projeto iniciou em 2008 com o cadastramento de mais de 40 famílias e, passado todo este tempo, a obra estagnou sem explicações. Muitos dos moradores questionam: onde foi parar a verba?

Nessa sexta-feira (15), os moradores acionaram o FAROL para desabafar sobre este mistério e pedir ajuda para que a gestão estadual, via Companhia de Habitação de Pernambuco (Cehab), assuma a responsabilidade de bancar os gastos que os moradores estão tendo na construção das residências, que deveriam ser erguidas com dinheiro público. “Eu já venho gastando cerca de R$ 5 mil nela e queremos nossos direitos”, comentou o pedreiro Walter Gomes dos Santos, 60 anos, que ocupou a residência quando ela estava sem teto, paredes, pinturas, janelas, portas, piso e iluminação.

Walter dos Santos diz já gastou cerca de R$ 5 mil do próprio bolso, mesmo cadastrado no projeto para ganhar as casas sem custo para os moradores

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Como ele, também gastou com tudo isso, inclusive com a compra e instalação de postes de luz, o vendedor ambulante José Tomé Rodrigues, 61 anos. Ele conta que que já vem investindo no próprio bolso R$ 5 mil na casa e reforça a cobrança do vizinho Walter, afirmando que as famílias devem ser ressarcidas.

“Todos nós que estamos ocupando essas casas e construindo elas no lugar do governo entramos no cadastro para recebê-las prontas desde 2008. Mas como a gente viu que a obra estava parada, nada andava, ninguém nos dava garantia nenhuma e, nesse meio tempo, a gente gastando com aluguel, resolvemos nos reunir e contruí-las com as nossas próprias forças”.

DESCRENÇA POLÍTICA

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José Tomé Rodrigues mostra o telhado que ele mesmo comprou e colocou na casa

A luta dos moradores agora é que o governo, além de lhes ressarcir, entreguem a escritura das moradias para que eles tenham a posse legal do imóvel. Enquanto isso, eles tocam suas vidas na esperança de receberem respostas convincentes daqueles que lhes prometeram um futuro melhor. No entanto, todos dizem, com pesar, que não acreditam mais em político.

“Já que nós construímos as casas com as nossas próprias mãos, casas que deveriam ter sido entregues pelo governo pra gente, eles deveriam nos entregar pelo menos as escrituras delas. A gente tem ainda, pelo menos, essa esperança, mas acreditar neles, não acreditamos mais não”, desabafou a dona de casa, Maria da Silva.

Ela, seu marido e dois filhos foram os primeiros a ocuparem as moradias inacabadas, em maio de 2015. Dividindo com eles a mesma aflição, o pedreiro Walter dos Santos também lamenta. “Em quem a gente confiou para a conclusão desse projeto aqui, sequer vieram aqui mais. Eu mesmo sou decepcionado com política, porque eles só fazem prometer”.

Dona Maria foi a primeira a ocupar as residências e diz que não acredita mais em promessa política

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FIQUE POR DENTRO

Através da Companhia de Habitação de Pernambuco (Cehab), a promessa do Governo do Estado era de entregar 45 residências e de concluir as obras de urbanização do bairro, com verbas também para calçamento e saneamento. A ordem de serviço da obra no bairro foi dada pelo então secretário das Cidades do Estado, Humberto Costa (PT), ainda na gestão Eduardo Campos.

Em junho de 2015, quando esteve em Serra Talhada, o governador do Estado, Paulo Câmara, foi pressionado pelos moradores do Mutirão, que levaram faixas e uma carta reivindicando a conclusão do polêmico projeto de urbanização do bairro (relembre).

Walter mostra que está agora instalando cerâmicas no banheiro da casa

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