Por Alejandro García, repórter fotográfico do Farol de Notícias

Tristeza. Os sentimentos devem ser vividos, não devem ser ocultados, pois eles nos dizem sobre o mundo, nossa vida nele e como nos afeta e nos ensina. Isso li não sei onde, mas concordei na hora. Não devemos esconder de nós o que sentimos. Eu sinto tristeza quando vejo a cidade, a Pátria amada, que sofre pelo abandono de seus filhos.

A Pátria amada é nossa rua. Ela é a pátria conhecida. O resto poucos sabem onde fica.

Se não amamos nossa rua, nossa cidade, não vale de nada por a mão no peito para cantar o hino. Hoje Serra Talhada vive no abandono. Deixo claro que se ontem também, não é a questão.

A questão é hoje e nosso compromisso é hoje, e nossa conduta para esse abandono é a de hoje, e o que temos a fazer é hoje. O governo municipal, o poder público, se manifestou e resolveu agir a seu modo (quem pense que é o público que tem esse poder, que pense de novo).

Não sei de ninguém que concorde com a medida que o governo da cidade adotou, a não ser o próprio governo. A cidade toda ferveu de críticas a aplicação de uma taxa para recolher o lixo. Mas a atitude do governo prevalece ainda inabalável.

Entretanto, a população, que já prevê que isso não vai resolver a situação de descaso com o tratamento da higiene pública, ficou só falando nas calçadas e ameaçando com não pagar, igual que com o aumento do IPTU. Interpolando, dentro de seis meses está todo o mundo pagando a TCR, criticando e resignado.

Convivemos com terrenos baldios abandonados, com cachorros soltos nas ruas, com lixo espalhado a toda hora, com ruas asfaltadas há pouco tempo cheias de buracos, com obras começadas e com data de acabamento vencidas, com ruínas a ponto de desabar no centro da cidade (o Ministério Público foi desmoralizado neste caso).

E o silêncio, cúmplice do abuso e da injustiça, reina solene na sociedade serra-talhadense, que se resigna a um destino de abandono. Abandona sua cidade e o futuro dela, sem refletir nesse sentimento profundo de tristeza e desânimo que se gera quando o abuso não é respondido, quando a resignação toma conta da ação, quando a condição de possibilidade de ação se desmerece e a iniciativa para agir se descarta.

Fazemos o quê para tirar nossa Pátria amada do abandono e para resistir a ação de um poder abusivo? Nada, então nasce esse sentimento de tristeza. É pela morte do poder do povo que hoje estou triste, estou de luto. Mas se ele der um sinal de vida vai ser festa.