Pouca gente imagina. Mas, diante do processo gradual de deterioração dos recursos ambientais do planeta, reciclar é uma alternativa viável de salvar o mundo. Neste sentido, há quatro meses, 11 catadores ligados à Associação Comunitária de Desenvolvimento Ambiental e Social de Serra Talhada (ACDASST) estão fazendo a sua parte. Mas a equipe de recicladores corre o risco de perder de vez a oportunidade de ganhar a vida salvando a espécie humana da poluição.

Segundo o presidente da Associação e líder dos catadores, Tiburtino Carvalho, a prefeitura planeja construir uma usina de asfalto no local onde hoje é recolhido o material reciclável, localizado por trás da Secretaria de Agricultura e Recursos Hídricos (ao lado do Parque de Exposição de Animais) no bairro da Borborema. Em contrapartida, o governo oferece outro local para o tratamento dos resíduos, mas a 12 quilômetros de distância do centro da cidade. “Os catadores não terão estímulo de trabalhar tendo que se deslocar para um local tão longe sem transporte”, explica Tiburtino. Umas das bandeiras de reivindicações dos catadores é, justamente, que o Governo Municipal garanta a locomoção da equipe até o novo galpão.

Outra preocupação recai sobre os fornecedores dos resíduos sólidos. Devido à distância e às condições da nova rota, que possui um trecho de caminho de terra, Tiburtino teme que eles percam a vontade de transportar os objetos até a localidade oferecida pela prefeitura. “Será que eles vão querer se deslocar por mais tempo e, ainda por cima, em uma pista de terra. E quando chover, por exemplo, eles vão enfrentar a lama correndo risco do carro atolar para levar o material até nós?”, indaga Tiburtino.

ESPERANÇA: Tiburtino espera que a prefeitura disponibilize transporte para os catadores

Atualmente, cerca de quatro grandes empresas de Serra Talhada dão apoio ao projeto dos catadores. Quase todos os dias, Tupan, Casas Bandeirantes, Grupo Pajeú e Schincariol despejam materiais como papelão, ferro, vidro, papel e plástico no terreno onde a equipe da Associação atua hoje, cedido pela Secretaria de Agricultura do município. Antes, descarregavam estes mesmos materiais num lixão, lozalizado na estrada que leva ao município de Floresta. Para as empresas, despejar resíduos recicláveis no bairro da Borborema, torna-se rentável, pois, além de gerar emprego e renda aos membros da Associação Comunitária, o lugar é mais perto e possui estrutura viária.

De acordo com Tiburtino Carvalho, no próximo dia 12 de abril haverá uma reunião com representantes do Governo Municipal para debater soluções para o impasse. “Uma solução que seja tanto boa para a gente quanto para a prefeitura”, defende o ativista. Diferente dos lixões, o local onde os membros realizam a separação dos materiais não possui nenhum odor de lixo, nem secreções de chorume ou outro tipo de material danoso à saúde. “Existe um pessoal do contra que chega aqui só para bisbilhotar e espalhar a mentira de que isso é um lixão”, lamentou o presidente da ACDASST.

O FAROL DE NOTÍCIAS procurou a prefeitura, através da Secretaria de Obras. Devido a questões de agenda, a tituar da pasta, Roberta Menezes, não pôde comentar o assunto até o fechameno desta matéria.

LUTA

Os catadores começaram a trabalhar com a coleta de material reciclável na cidade em dezembro do ano passado. Hoje, separam cerca de meia tonelada de material por mês. A maioria é vendida para uma cooperativa de reciclagem de Afogados da Ingazeira e também para atravessadores locais. Os membros da Associação sonham um dia poder evitar a figura do intermediário que compra deles os materiais para negociar diretamente com empresas de reciclagem. “Ainda faltam condições. A nossa ideia era realizar a coleta seletiva de bairro em bairro em Serra Talhada, promovendo a educação ambiental. Mas ainda há vários problemas, não temos caminhão, nem carroças, sem contar que existe desunião entre os próprios coletores. Alguns não acreditam na proposta”, disse Tiburtino Carvalho.

UNIÃO: Membros da Associação pedem apoio por melhores condições de trabalho

A cada despejo realizado pelas empresas, há uma separação do material reciclável, que é armazenado em sacos e separado em pequenos galpões construídos com o apoio da Odebrecht. O quilo do papelão custa R$ 0,16 e do plástico transparente R$ 0,60. No final do mês, quando tudo é pesado, o montante é divido pelas 11 pessoas que trabalharam. O máximo que alguém conseguiu lucrar foi R$ 300.

Para o controle da rotina diária é feita uma lista de presença que marca quantos dias cada catador atuou. Quanto mais diárias, maior é o valor para o associado receber. Os catadores chegam às 8h e vão para casa às 16h, de segunda à sábado. “É preciso ter consciência social para trazer o material para cá”, acredita Tiburtino Carvalho. Através de iniciativas como essa, pessoas como Maria José de Oliveira, 46 anos, conseguiram sair da dificuldade financeira. Hoje, ela comemora exibindo um sorriso de vitória. “Agora tenho emprego e renda. Tenho condições de suprir os gastos da minha casa. Quando não venho para cá, fico triste”, confessa.