Por Manu Silva, professora, militante do Coletivo Fuáh e Movimento Diverso, repórter do Farol de Notícias

Publicado às 04h57 deste domingo (18) – Fotos: Reprodução

O Brasil finalmente sentiu o impacto da intervenção militar no Rio de Janeiro, é uma pena que uma das mulheres mais representativas da cidade precisou morrer para que as pessoas prestem atenção. Finalmente algumas pessoas se sensibilizaram e procuraram saber o perigo disfarçado de segurança que todos os dias homens e mulheres estão sujeitas nas comunidades cariocas.

A vereadora de mandato com a 5º maior votação no Rio, socióloga, feminista, ativista dos direitos humanos e causas LGBTQI, mãe, negra e favelada, Marielle Franco, de 38 anos, foi cruelmente executada na noite dessa quarta (14). Foram 13 disparos, nove na lataria e quatro no vidro, com pistola calibre 9mm e munição vendida em 2006 para a Polícia Federal de Brasília.

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Marielle Franco foi indicada para comandar uma comissão na Câmara de Vereadores que iria supervisionar os atos dos interventores em fevereiro. No dia 10 de março Marielle denunciou a violência e o abuso de poder de policiais na comunidade do Acari. Quatro dias depois Marielle se tornou a ‘prova morta’ do desastre da intervenção militar. Com quatro tiros na cabeça.

Tirando a carreira política e o fato de ser mãe, eu me sinto muito próxima as lutas que Marielle Franco travava. Não venho de um bairro periférico, mas lembro sempre da voz da socióloga Paula Santana nas aulas de Educação para as Relações Étnico-raciais fazendo uma análise bem global ao dizer que o Sertão é a periferia do mundo.

Nessa quinta-feira a professora Marina Luiza me mandou uma mensagem dizendo que sentia uma mistura de orgulho e medo, pediu para eu me cuidar. Tinha lido as notícias sobre a execução e lembrou de mim. Nesse instante eu senti que eu realmente trilho um caminho parecido com o de Marielle. Doeu mais ainda sua morte.

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Vi também nas redes sociais de Kecya Freire, a co-fundadora do Coletivo Fuáh, uma mulher negra, militante, estudante de Engenharia Agrônoma, refletindo sobre o assassinato de Marielle e seu motorista Anderson Gomes que está cada vez mais caro o preço a se pagar por ser militante. Receio que ela sentiu o mesmo medo que eu.

Antes de Marielle vimos na mídia uma professora sendo agredida por reivindicar seus direitos, jovem sendo assediada por um homem desconhecido no meio de um voo, pai estuprando filhas e enteada de 7 e 10 anos aqui em Serra Talhada e mulheres apanhando todos os dias seus companheiros. Está muito difícil ser mulher.

O mundo inteiro sentiu essa perda por ter empatia pela história de Marielle, mas sobretudo porque todos os caminhos investigativos levam para uma queima de arquivo. O assassinato de uma parlamentar em pleno exercício do cumprimento do seu mandato é um atentado violento ao estado democrático.

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A vida de Marielle servirá para unir ainda mais mulheres e homens contra as barbaridades que estão acontecendo no Rio de Janeiro, na política brasileira, nas ruas de cada cidade que vê as violências que sofremos. Quirino publicou uma charge que mostra a força e a luta se multiplicando a partir deste luto.

“Nós seremos resistência, porque você foi luta”. Marielle Presente!