saudade1[1]Por Josenildo Mariano de Siqueira, Professor serratalhadense

Não tenho causos a contar, mas personagens gratificantes a lembrar. Pessoas especiais que engrandeceram nossa Terra. Vou tentar delimitar dos anos 60 até meados da década de 70. Alguns prosseguiram até hoje com a labuta.Vejam, Serra Talhada não tinha os grandes supermercados de hoje, exceto a Cobal (Padre Ferraz/depois, 15 novembro) e o Supermercado Susan –posteriormente, Vila Bela (15 Novembro/Afrânio Godoy). Portanto, foi de muita importância a contribuição de pequenos varejistas de mercearias, antigos bodegueiros, para o que somos hoje, um dos grandes polos comerciais de Pernambuco.

Vamos aqui lembrar alguns desses grandes heróis. Guerreiros no melhor significado da palavra. Muitos deram sustento à família fazendo malabarismo na mercearia. Educaram os filhos, por vezes, oportunizando o estudo na capital. Vocês foram e são heróis sim. Neymar é talento, participante de big brother é oportunista, mas para mim vocês foram e são muito mais. Então vamos lá.

Quem não se lembra de Betinho (in memoriam), sócio de Seu Deca de Xanda –in memoriam (genitor de Lourival Simões), ambos proprietários da Mercearia Progresso (Agostinho Nunes/Pereira Lins) que fornecia os pães do dia. Foi lá onde eu conheci um pão doce chamado “peito de moça” que propositalmente tinha um corcovado no meio.

Outra mercearia muito sortida era de ‘Seu Areinha’ – in memoriam (Joca Magalhães/Jacinto Alves), um senhor muito calmo e sereno. Dizia para seu filho de nome Roberto Carlos: “Não despache dois fregueses  de uma vez. Você se atrapalha.”

Tentar passar nota de duas cabeças em ‘Seu Félix’ era com certeza arriscar muito. Quando flagrado, de imediato vinha o despacho: “Está pensando que sou besta ou cego?” Seu Félix foi uma vida na Agostinho Nunes com a Jacinto Alves.

Na antiga Rui Barbosa com a Travessa José Olavo, tinha a presença marcante de Seu Agamenon Guerra (genitor do grande mestre da matemática, Prof. Reginaldo Guerra, meu digníssimo professor no Cônego Torres-77/78). Não era fácil arrancar um sorriso de seu Agamenon. O mesmo também passava o jogo do bicho. Era desafio ver o “moleque” que tinha a coragem de lhe fazer a seguinte pergunta: “Seu Agamenon, que bicho deu?”. Ele respondia com outras perguntas: ‘Você jogou? Se não jogou pra que saber?. Interessante era a concorrência por muitas vezes separados por  05 ou 10 metros. Seu Zé Tomé era em frente a seu Agamenon. Já um pouco mais adiante seu João da Federal – in memoriam –(15 de novembro / 13 de maio ), este era pai de Virgulino Ferreira, vulgo Anildomá do Xaxado.

Na Praça Sérgio Magalhães, Seu Libano Nogueira -in memoriam, próximo Seu Dezinho Nunes – in memoriam e ainda Dona Toinha (genitora de Francisca/Paula).

No Beco Do Rio. Seu Brás. Ali, quietinho. Uma vida. É muito tempo e tranquilidade. (Beco Do Rio/Cornélio Soares)

Na Jacinto Alves, tínhamos o brilho dos alumínios no teto da venda de seu Afonso. Um pouquinho mais à frente Seu Zé Lero. Na redondeza, Seu Lula Conserva (Pereira Lins/Joca Magalhães). Lá pra frente, Seu Zé Grande – in memoriam (Praça Pereira Lins)

Olha a alegria da garotada. Seu Elias (olha a garrafinha), Seu Adolfo Sampaio (haja garrafinha), Seu Totonho (in memoriam). Uma enorme geladeira com portas de madeira, deduza o que tinha dentro dentre outras coisas…garrafinhas. Seu Elizeu (Trav.José Olavo), Nezinho Magalhães – in memoriam (na Joca Magalhães) e outros que tão cedo acordavam para abastecer o nosso povo, fica a nossa gratidão.

No Alto da Conceição (antigo Alto do Urubu), na Fiscal Leopoldo tínhamos a presença de Seu Joaquim Freire (genitor de Diciula e Dalma). Ô povo bom!

No Bairro Do Bom Jesus, vale lembrar “A Aliança de Ouro”de Seu Álvaro Gaia (in memoriam), ainda tenho lembrança fisionômica do mesmo. Seu Valter (genitor de Geová e Theódola) em frente, Seu Francisco (cearense – in memoriam), Seu Zé Barros/Dona Irene e outros. Eu só tenho a dizer : Quão grande foram e são vocês.

Mas era e é lá no Mercado Público (a universidade do Comércio) onde se aglomerava e ainda aglomeram dezenas de comerciantes do varejo. Alguns se destacaram pelo seu volumoso número de fregueses, cliente é denominação recente .

Alô Zé Maciel –“se não quiser pegar fila chegue cedo pra fazer a feira”. Seu Rafael, Toinho de Rafael, Israel, Bio Gonçalo (in memoriam), João de Xica (in memoriam), Valdelício, Antônio Clementino (in memoriam) Wilson Melo, Chico Elói, Zé Gaia/Nelí, Berlúcio, Maria de João Mariano(in memoriam), Nezinho Galdino,Valdertudes (Tudinha) que iniciou na BR-232, saindo depois para o mercado e é uma história viva. São mais de 40 anos no “velho mercado”. Ah! Mercado de muitas histórias, merecia mais atenção da gestão pública.

No bairro São Cristovão/Bomba, Dona Lourdes Sampaio, Dona Mocinha. Em frente, do outro lado da BR, Seu Emídio/Dona Eulália –in memoriam (genitores de Sônia e Sofia). Seu Miguel Olinda (in memoriam).

E Gera?O famoso e nada sugestivo “Bom Ladrão”?. É só apelido do tempo de menino. É gente fina e honesta. Agora o nada sugestivo “Bom Ladrão” cairia bem em mim? Lá no início dos anos 80, no mercado público, o açúcar, eu vendia apenas 950g como se fossem 1Kg. Mas em compensação vendia mais barato. Acredita? Deus me salve.

Alguns atendendo às exigências de mercado e ao favorecimento da localidade se tornaram e são hoje grandes comerciantes, mas com berço na mercearia. Exemplos: Dona Lourdes Torres, Seu Luís Marinheiro, Seu Nivaldo Ferreira, Seu João Duque e outros.

Mas os grandes supermercados chegaram puxados pelo antigo Servilar. As coisas começaram a mudar… Está chegando o Shopping, apoteose do consumismo. Vou frequentar, comprar… Tenho muita esperança. Mas quando eu estiver lá não vou esquecer da importância econômica, social e cultural desse rico legado que vocês deixaram e continuam a deixar em nossa memória. Da velha caderneta do “fiado”, das mercearias ao cartão de crédito que hoje se fazem presentes em seu comércio. Está ai a presença de um povo forte.

Vou encerrando abrindo uma exceção para homenagear um recente comerciante de mercearia.  Juscelino, o Téa (in memoriam) natural de Betânia e gloriosamente cidadão de Serra Talhada. Alguém tão especial que por unanimidade Serra Talhada aprendeu a amar. Sua dignidade e seu semblante até nos seus mais difíceis e últimos momentos nos deram uma lição de vida.  Nós serratalhadenses teríamos mil palavras lindas para identificá-lo. Mas vou resumir em poucas dizendo: “Serra Talhada te acolheu como filho, você foi e continuará sendo nosso irmão”.

Agradeço a pessoa ou aos familiares de todos que tiveram seus nomes aqui citados. Até a próxima.