marcha_mundial_da_mulheresPor  Luciano Menezes, professor com Pós-graduação em História Geral e do Brasil

Ao ler o texto de Poliana Ferraz, achei conveniente reforçar as discussões sobre essa questão das agressões físicas e morais sofridas pelas mulheres. Acredito que, o não esgotamento das opiniões sobre esse problema ocorre, principalmente, pelo grande número de divulgações dos casos de violência, sobretudo aqui no FAROL.

Para rechaçar a ideia da inferioridade feminina estabelecida ao longo do tempo, é necessário tentar compreender como foi construído esse pensamento. Como a subordinação da mulher se tornou legal por muito tempo, deixando vestígios, que causam até hoje, um grande obstáculo para o desenvolvimento nas sociedades, que não conseguem se libertar dessas práticas e costumes – as opressões dos homens sobre as mulheres.

A subordinação do sexo feminino foi e ainda continua sendo aceita e acatada por muitos, em partes até voluntariamente. A submissão mental, com raiz no pensamento humano nutrido pela ideia de Aristóteles, defensor dos domínios do homem sobre a mulher. Dualizou as pessoas em seres de “naturezas livres” e seres de “naturezas escravas.” Toda a sua postura voltada para afirmar o homem como supremo em relação à mulher se propagou. Da mesma forma que se legitimava os gregos como seres superiores a outros povos; como homens livres que tinham amplos direitos sobre os demais. Talvez, as obrigações e a obediência da mulher partiram desse contexto, posteriormente, o pensamento e algumas práticas religiosas ajudaram a difundir com grande maestria essa hierarquização. Sob as benções e aprovações, tanto no céu como na terra.

Essa cosmologia difundida justificava as hierarquias: domínios dos homens sobre mulheres, dos brancos sobre os negros, de pessoas livres sobre os escravos. Não era admitida qualquer liberdade para as mulheres, assim como era impensável para qualquer trabalhador ou escravo. A opressão era natural, dada pela lei, pelas normas, pelos costumes, pela filosofia.

Então, essas formas de poder enraizadas permanecem e, muitas mulheres continuam mantidas sob as sujeições, as agressões, os aviltamentos, as tiranias: graus de crueldades de todas as formas. O modelo patriarcal como ordem normal, o protótipo paterno garante até agora o exercício desse autoritarismo. E, essa “lei” do poder tem sido exclusiva, perpetuando as subordinações e a passividade da mulher. Esse estigma de infâmia que se mostra inapagável tem causado desgraças recíprocas, sendo a situação das mulheres, muito mais funesta.

O desejo do poder é demasiadamente forte, porém míope, não consegue enxergar qualquer qualidade na mulher, a sua intuição intelectual, suas virtudes, atributos que não precisam ser dirigidos pelo homem. Porém, essa continuação de um estado primitivo é o poder de tiranizar do homem sobre a mulher, é o seu condicionamento aos sentimentos e as práticas de violência, intrínseca nos costumes e em sua alma.