Do Diario de Pernambuco
Quem pretende ir ao comércio de Carnaíba exatamente ao meio-dia e um minuto vai se sentir em algum país da Europa, como a Itália e Espanha, onde a população costuma tirar a famosa “sesta”. Ao meio-dia todas as lojas fecham, aqui e acolá alguma permanece aberta, mas a grande maioria só volta a abrir às 14h e algumas abrem apenas às 15h. Parece que você está num fuso horário diferente. Esse costume é até justificado no Sertão. Sob um calor de 37 graus – na sombra, como se diz -, não é de se admirar que lojistas e funcionários aproveitem esse intervalo para um bom banho e uma soneca, após o almoço. Esta é uma das curiosidades da cidade, que fica a 390 quilômetros do Recife, no Alto Sertão do Pajeú, e possui cerca de 20 mil habitantes.
Iniciativas como a de Andrezinho, que unem o social ao empreendedorismo, só têm impulsionado o comércio. São dezenas de lojas e boutiques de roupas, salões de beleza, barbearias da moda e um grande supermercado, o Avistão, que não fica a dever a nenhum outro da capital e possui até posto de atendimento bancário, algo inédito na região. Praticamente todo o comércio da cidade tem uma característica que permeia: a maioria dos comerciantes são oriundos da roça, antes eram proprietários de pequenas bancas na feira, e ofereciam serviços de forma bem acanhada. “Agora, todo mundo saiu do casulo e apareceu”, analisa Alexsandro Queiroz, 39 anos, dono do Avistão. “O comércio de Carnaíba cresceu, tornou-se competitivo e com qualidade”, avalia o empresário. Prova disso é que até o final do ano será inaugurado o mercado público municipal com 32 boxes.
A informalidade e o desconforto de antes, deram lugar ao profissionalismo e adaptações à nova realidade do mercado. Mas ainda há quem preserve aquele gostinho de passado. Aos 75 anos e com 50 na praça, Manoel Pereira de Carvalho, o “seu” Maninho, mantém a Graciosa Móveis dentro de um mesmo padrão, desde a inauguração, em 1970. As vendas são anotadas em um caderno e na ficha que o cliente recebe e na qual os pagamentos vão sendo registrados. A loja é conduzida pela mulher e filhos de “seu” Maninho. “Nós estabelecemos uma relação familiar com os clientes. Conhecemos todos.”
3 comentários em O curioso comércio de Carnaíba