Do Diario de Pernambuco 

Antes de testar positivo para Covid, Queiroga encontrou diversos líderes mundiaisO ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, protagoniza uma passagem memorável por Nova York. Integrante da comitiva que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos por ocasião da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, a maior autoridade sanitária do governo brasileiro foi diagnosticada com Covid-19 ontem (21).

Às 22h02, horário de Brasília, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República confirmou o contágio de Queiroga e informou que o ministro permanecerá nos Estados Unidos durante o período de isolamento. Segundo a nota, o ministro passa bem. O Planalto acrescentou que os demais integrantes da comitiva presidencial realizaram o exame e testaram negativo para a doença.

Marcelo Queiroga deverá ficar 14 dias em Nova York, por força da quarentena que terá de cumprir. Para o ministro, o diagnóstico de Covid-19 foi o desfecho de uma passagem marcada por controvérsias e baixarias. Na segunda-feira à noite, o médico atropelou o protocolo de conduta recomendada a qualquer autoridade pública. Ao ver um grupo de manifestantes em protesto contra o governo Bolsonaro, Queiroga foi à janela da van que o conduzia para o hotel e, em um gesto obsceno, mostrou o dedo médio das duas mãos para os críticos.
Por causa do teste positivo do ministro, o Itamaraty decidiu suspender a presença de diplomatas nas reuniões previstas para esta quarta-feira na Assembléia-Geral. É o segundo caso confirmado de um infectado por coronavírus na comitiva que acompanha Bolsonaro nos Estados Unidos.
Queiroga esteve ontem com o presidente no plenário da ONU, o que deve despertar reação internacional para rastrear os contatos do ministro e identificar possíveis focos de transmissão. Em foto nas redes sociais, ele aparece no local onde mais cedo discursaram os principais líderes mundiais.
O ministro também encontrou-se com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, em reunião bilateral na segunda-feira, um dia antes, portanto, do diagnóstico de Covid. Na terça, Johnson esteve com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca. O britânico e o americano usavam máscara.
O ministro da Saúde é o segundo integrante da comitiva presidencial a testar positivo para novo coronavírus. Na segunda-feira, um diplomata brasileiro encarregado de organizar a viagem de Bolsonaro teve a confirmação de que estava infectado com a Covid-19. O funcionário, que tomou apenas a primeira dose da vacina contra a doença, viajou para Nova York antes da comitiva presidencial.
Bolsonarista
Alçado ao ministério da Saúde pelo perfil técnico, após a passagem desastrosa de Eduardo Pazuello, o médico Marcelo Queiroga tem trocado a conduta médica pelo bolsonarismo. Se antes ele não era caracterizado como integrante da ala ideológica do governo Bolsonaro, o titular da Saúde tem adotado um comportamento típico dos chamados bolsonaristas de raiz – contestador, polêmico e de baixo nível. “A impulsividade é marca registrada do atual governo. Todos os dias o próprio presidente quebra os mais diversos protocolos”, afirmou o cientista político Carlos Eduardo Novato.
A atitude indecorosa do ministro é considerada preocupante. “É muito grave, sobretudo porque acontece num ambiente internacional, em que a cúpula do Executivo está representando mais do que um governo, está representando o Estado brasileiro”, explicou a professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV (DF), Graziella Testa.
“Definitivamente essa atitude dele denota que ele não entende que exerce um cargo político. Esse exemplo comprova que, na ótica bolsonarista, o cargo de ministro não é um cargo técnico. Um bom ministro não necessariamente vai ser o melhor tecnicamente naquilo que ele faz, mas é aquele que vai ter também uma visão política e uma dimensão de que o que está fazendo vai agradar uns e desagradar outros sempre”, comentou a especialista.
Antes de mostrar o dedo médio em Nova York, Marcelo Queiroga causou muito barulho ao recomendar a suspensão da vacinação de adolescentes no Brasil. Mencionou uma morte possivelmente ligada à aplicação de imunizante. Foi obrigado a se retratar após uma ampla constatação de que o caso nada tem a ver com vacinas contra a Covid. Apesar do alarde do ministro , estados e municípios continuam a imunização de menores de 18 anos.