Por Cícero Lopes, professor e mestrando em Ciências das Religiões
A história foi sempre contada pelos homens. Até nossos dias o androcentrismo e o patriarcado procuram invisibilizar o protagonismo da mulher. Dentro desse sistema de dominação ainda são definidos as funções sociais de homens e mulheres, normalmente, relegando a mulher um papel subalterno com base na diferença biológica dos sexos (REIMER, 2005). Para se ter uma ideia, “Dos 195 países independentes no mundo, apenas 17 são governados por mulheres. A porcentagem feminina em papéis de liderança é ainda menor no mundo empresarial. Isso significa que, quando se trata de tomar as decisões mais importantes para todos, a voz das mulheres não tem o mesmo peso” (SANDBERG, 2013). É preciso desconstrutir este processo, desnaturalizar estas relações de poder e dominação sobre o gênero feminino (BOURDIEU, 2001), e estabelecer relações mais justas e igualitárias entre homens e mulheres.
No Cristianismo, há uma revolução. Jesus é, sem dúvida, o precursor da “libertação da mulher” (EDDÉ, 2011) no contexto das antigas civilizações. Desde o começo de sua missão acolheu mulheres como discípulas (Lc 8, 1-3; Mc 15,40), o que era bastante incomum; e se colocou ao lado delas quando o preconceito e a injustiça lhe queriam ferir (Jo 8, 1-11). Na comunidade nascente, a mulher teve grande participação: Rm 16, 1-16, pois se entendia que homens e mulheres eram iguais diante de Deus: Gl 3,28. Nos primeiros séculos da era cristã Maria Madalena era chamada de “a apóstola dos apóstolos”, mas com o tempo, o papel da mulher foi sendo desautorizado por um injusto processo de patriarcalização das estruturas da comunidade.
Várias considerações poderiam ser feitas, mas o importante para hoje é destacar o fato de que uma mulher foi a primeira testemunha da Ressurreição (Jo 20,1-18), maior evento do Cristianismo. Deus, mais uma vez, se coloca ao lado dos oprimidos, dos injustiçados, dos marginalizados da história. O que se espera é que após 2000 mil anos, a mulher seja reconhecida em seu papel e em sua dignidade, tanto nas Igrejas como na sociedade. Nenhum gênero é melhor do que o outro (BEAUVOIER, 1967), mulheres e homens, homens e mulheres, somos todos iguais em dignidade e direitos, e a ressurreição de Jesus fundamenta esta verdade.
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