O major Teófanes Ferraz Torres ao lado do dr. Euríco de Souza Leão (de branco), chefe de polícia ao sertão de Pernambuco, em Belmonte (janeiro de 1928). De pé, o tenente volante Arlindo Rocha – Foto: Reprodução

Pesquisa feita pelo Historiador Valdir José Nogueira de Moura

Sobre esse fato publicou o Jornal do Recife, ed. 93, p.4, de 22/4/1924:

“De Vila Bela – Ninguém seria capaz de avaliar a surpresa e a sensação causadas à população vilabelense pelo grande acontecimento que ora empolga o sertão…

Narremos o fato:

No dia 17 do p. p. o major Theophanes Torres, acompanhado de 19 praças, partiu desta cidade com destino a Belmonte, de onde pretendia sair em diligência para diversos pontos.

Chegando naquela cidade soube que diversos grupos de cangaceiros estavam em “Lagoa Vieira” deste município, lugar muito conhecido – como centro de operações banditinas, por conseguinte foco dos bandidos; então em Belmonte o dito oficial aumentou a sua força com 14 praças do respectivo destacamento daquela cidade, e seguiu sem perda de tempo em direção aquele local onde se encontravam os cangaceiros.

Solícito e valente como sempre, o destemido oficial, querendo zelar o seu nome, aliás já feito e conhecido entre nós mas uma questão de sã moral do que por vaidade ou fantasia tinha em mira o cumprimento do dever, isto é, ardia em desejos de brigar com o famigerado Lampião, foi assim que no dia 23 do mês aludido, o intrépido comandante das forças volantes sustentou renhido combate com Lampião e seus sequazes.

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A operação foi realizada no mesmo caminho de “Lagoa Vieira” pelo espaço de uns 25 minutos mais ou menos, resultando saírem feridos gravemente um tal “Maçarico” e Lampião, e o cavalo em que este último cavalgava fora morto no combate.

Esse tal “Maçarico” é um cangaceiro terrível, dizem que ele é o factótum do Lampião.
Após a luta os bandidos fugiram espavoridos pelo serrado da caatinga deixando entre outros objetos, um bornal muito enfeitado contendo 360 balas de rifle.

Mas confiante na ação e no valor que seus soldados demonstraram por ocasião da luta, o major Theophanes não desanimou com a fuga dos facínoras ao contrário, seguiu-lhes ao encalço, perseguindo-os continuadamente até as proximidades do lugar Barro, servindo-lhe de guia a pista do sangue que os bandoleiros iam deixando pelos caminhos ora por dentro, ora por fora da caatinga.

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Quando ele ia chegando no lugar Barro que dista uma légua de “Lagoa Vieira” e doze desta cidade, caiu numa emboscada onde sustentou novo tiroteio contra os malfeitores, saindo feridos gravemente o anspeçada Manoel Amaro de Souza e o soldado Manoel Gomes de Sá, e levemente o soldado João Demétrio Soares.

Calcule o público as numerosas dificuldades com que lutou o major Theophanes na luta da emboscada em que foram feridos os seus soldados, em que afinal os bandidos apavorados com a energia dos mesmos e a tenacidade do oficial tiveram de fugir novamente, tornando-se impossível continuar a perseguição em vista das faltas de recursos, já para tratar dos feridos, já para transportá-los convenientemente a esta cidade.

Assim, sob as vistas cuidadosas do distinto oficial os feridos foram transportados para aqui. E tudo isto foi suportado numa caminhada de 12 léguas com resignação, coragem e valor incontestáveis.

O mais interessante de todo esse feito é que, o major Theophanes só viera a saber que tinha combatido com Lampião depois de toda a luta, porque uma mulher residente no Barro, lhe afirmara ter visto passarem correndo dos fugitivos Lampião, Maçarico e Meia-Noite e outros todos conhecidos da informante.

Portanto parabéns ao major Theophanes e aos seus valentes soldados.”

Detalhes sobre a foto e seus personagens

Foto: O major Teófanes Ferraz Torres ao lado do dr. Euríco de Souza Leão (de branco), chefe de polícia ao sertão de Pernambuco, em visita à cidade de Belmonte em janeiro de 1928, quando da inspeção ao Sertão pernambucano. De pé, o tenente volante Arlindo Rocha. O major Teófanes era considerado uma verdadeira lenda no seio da corporação em que atuava. O mesmo havia se notabilizado pela prisão do famoso cangaceiro Antônio Silvino no ano de 1914.