Publicado às 06h34 deste domingo (19)

Por Flaviano Roque, morador de Serra Talhada

Disseram que um bólido atravessou o céu da cidade de Serra Talhada, tudo se passou neste último dia 15 de julho de 2020. A bem da verdade, eu tenho lá minhas desconfianças de ter sido outra coisa, mas, levando em conta que saiu até no jornal — “Meteoro brilhante é visto no céu do nordeste” — e, vocês sabem, se saiu no jornal, quem sou eu para discordar? Embora o noticiário dos últimos meses não seja uma fonte confiável, uma passada de olhos e atestaram minha razão, a cada dois dias uma pesquisa ou verdade nova que consegue contestar a anterior e, estatisticamente, provar que uma moeda pode ter um terceiro lado.

Não, não queria falar sobre moedas (é inconveniente para o momento), entretanto, nada pior que alguém de duas caras, imagine de três ou quatro? Apesar dos pesares, me inclino a aquiescer com a matéria. Jornais menos comprometidos, antigos ou desses digitais, sempre estiveram acostumados a mentir sobre muitas coisas. No entanto, os fatos absurdos (como o do bólido celeste) têm toda a glória de esgotar uma narrativa completa.

Está aí uma boa indicação para informação “em tempos de pandemia”, se algo é ilógico (na origem) pode mesmo ser verdade; se a irracionalidade do fato é simplesmente bizarra e demasiada humana, desconfie da fonte.

Como disse, o fato é verídico. Um incandescente brilhante, devido ao rompimento da atmosfera, proporcionou um grave e sônico estrondo. Ouvi dizer ter cruzado o estado, sumindo pelas bandas de Arcoverde. Não vi com meus olhos, lamentavelmente… Mas, percebi outro fenômeno estranho, que se passou por esta cidade, naturalmente isso não fora noticiado nos jornais, explico: quem viu o aerólito, parecem ter se convertido a uma prática de astrologia um tanto quanto precipitada: astrologia de interior.

Começaram então as interpretações simbólicas dos significados possíveis, isto é, das relações
travadas entre os elementos da natureza e a realidade de um povo tão sofrido.

Alguns de pronto disseram: “Viva à luminosa bola de fogo no céu!”. E, como num passe de adivinhação para com o futuro, viram aí a grande oportunidade da cidade. Finalmente a Vila Bela iria estar alocada entre as cidades de primeiro mundo; o lampejo, no meio da noite, teria aparecido para clarear as mentes ainda pedantes (e duvidosas) quanto à máquina mortífera do progresso. Graças à ciência, à economia e aos conhecedores — e falemos baixo nesse ponto, pois os coaches podem ouvir e inventar três passos
para simplificar ainda mais a interpretação dos astros — agora se crê que o imbróglio deste ano está
resolvido. Um fenômeno espacial na Capital do Xaxado; só poderia ser um chamado do céu à volta da
grande locomotiva.

Coisa de grande valia, um acontecimento incomensurável; e é bom mesmo, especialmente para que os sulistas ou os recifenses não saiam por aí dizendo ser o sertão um lugar onde nada de novo acontece. Se ainda não sabem, até Shopping Center vamos ter em poucos dias, bem no meio de uma pandemia. Tempos estranhos, o que falta mais? Alguém avise a Zeus que não precisa se esforçar com seus fulgores celestes, já temos desastres suficientes ao pé da serra.