A força da mullher negra está acima de qualquer preconceito. E para Guida não existe tempo ruim. Não que ela seja indiferente aos problemas. Mas ela escolheu não deixar que eles sejam os protagonistas de sua vida. Nascida em Serra Talhada, na década de 50, Margarida Maria dos Santos, 68 anos contou que sempre gostou de festa, de “muvuca” e de passear.
Casada há 43 anos, 3 filhos, 2 netos e 2 bisnetos, Guida sempre foi determinada em construir uma família. “O pessoal mangava de mim. Diziam que eu era antiga. Eu era uma “negona bem boazuda”, mas eu sabia que se eu ficasse na gandaia, ninguém ia me querer. Eu tinha muita vontade de ser dona do meu lar, da minha família”, disse com muito orgulho.
SEUS SACRIFÍCIOS E SUA LIBERDADE
Há 9 anos participando do Centro de Referencia do Idoso – CRI, Margarida encontrou um espaço seguro para expressar sua liberdade e esbanjar seu carisma.
Animando, cantando ou tocando a zabumba em um grupo de Pé de Serra, Guida vê no Centro uma oportunidade para demonstrar o orgulho em ser uma mulher que vai atravessando cada dificuldade com pés firmados na fé e os brilhando alegria. “Para mim só tem duas horas: de dia e de noite”, diz satisfeita.
Ela ainda reforça a importância de equipamentos como o CRI na garantia dos direitos dos idosos e relembra que as famílias devem acolher seus idosos, pois muitos deles lutaram para manter seus filhos, netos e bisnetos.
Receba as manchetes do Farol de Notícias em primeira mão pelo WhatsApp (clique aqui)
Ao falar sobre seu casamento, Margarida relata que precisou abdicar de alguns projetos para manter o equilíbrio do seu lar e, mais recentemente para se dedicar ainda mais ao marido que está passando por problemas de saúde.
Ela desistiu, temporariamente do EJA, que segundo ela, estava fazendo “para não morrer burra”. Mas para Guida, a pausa é necessária para cuidar de alguém que sempre esteve ao seu lado e a fez feliz. Margarida diz com carinho que sua força vem de Deus e que o amor e a gratidão são as bases que sustentam sua família.
“A gente não é nada se não for Deus na nossa vida.Tem pessoas que perguntam qual o segredo para um casamento tão duradouro e eu digo que não dou a receita porque não é todo estomago que aceita este cardápio. Mas, acima de tudo é o amor. O amor supera tudo. Amor e gratidão por tudo que ele já fez por mim”
GUIDA E SUA NEGRITUDE
Sobre negritude, Margarida não tem meias palavras. Ela se afirma como mulher negra e abraça as diferenças. Sua percepção de raça é intuitiva e ampla: ‘Eu aprendi sozinha porque isso vem de dentro de mim. Me identifico com muito orgulho como pessoa negra. Nunca encontrei dificuldade para isso, até porque eu nunca liguei. Racismo e preconceito eu tiro de letra. Nunca passei por situações assim e se alguém falar, é problema. Existe muitos tipos de racismo, mas nenhum deles me atinge”
Durante o tempo em que viveu fora de Serra Talhada, Guida lembra com alegria do estilo caótico e livre da Capital Recife: “Ali tinha “xangozeiro”, tinha crente, católico e ninguém tocava em religião de ninguém ou em cor, que fosse preto, branco ou pobre, ninguém se importava”. E recorda de episódios de segregação que presenciou em Mirandiba, no sertão central de Pernambuco.
“Lá tinha o clube dos negros, na escola tinha cadeiras separadas até o ano de 1978. Eu queria dançar e não podia dançar junto dos brancos.Tem pessoas que não entendem de igualdade. Para elas, você só vale o que você tem. Mas, eu escolhi não me importar. E se eu presenciar, [episódios racistas] eu revido. Eu defendo minha classe negra. Eu tenho pena das pessoas que não acreditam no que elas são, que não tem orgulho da cor e da pele que tem”, finalizou.
DIA 3 DE JULHO: DIA NACIONAL DO COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Celebrado em 3 de julho, o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial é um marco importante na luta contra o racismo no Brasil. Foi instituída para lembrar a criação do primeiro movimento negro do país, o Teatro Experimental do Negro, fundado em 1944 por Abdias do Nascimento. A data reforça a importância de combater todas as formas de discriminação racial e promover a igualdade racial.
2 comentários em A força da mulher negra +60 em Serra Talhada: Viva Dona Guida!