Fotos: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 05h26 desta quarta-feira (7

Em 1921, nascia Amália Antônia da Silva, na cidade de Floresta, poucos anos depois Serra Talhada recebeu, ainda criança, a pequena Amália, menina que se tornou mulher, esposa, mãe, avó, bisavó, tataravó e hoje (7 de abril) vive feliz e saudável para comemorar seus 100 anos de vida e partilhar sua história e as memórias que guarda com tanto zelo, inclusive lembranças de Lampião.

Casou-se com Laurindo Alexandre da Silva também natural de Floresta, morou mais de 30 anos em Bernardo Vieira, distrito de Serra Talhada. Mãe de 12 filhos, sendo 10 vivos, avó de 50 netos e segundo os filhos, bisnetos e tataranetos já perderam a conta. Trabalhou na agricultura, como lavadeira, foi cozinheira de festa, costureira e ainda foi feirante.

Em  1959, Dona Amália perdeu seu companheiro Laurindo e ficou com 10 filhos para criar, o mais mais novo ainda bebê, tinha apenas 6 meses de vida. Casou-se novamente com José Luiz da Silva e ficou viúva pela segunda vez aos 80 anos, desse relacionamento teve mais 2 filhos.

”Quando fiquei viúva o povo pedia meus filhos e eu dizia dou não, vou criar tudinho. Diziam: ‘mais Amália, você não cria’, e eu uma mulher, criei tudinho. Pediram, mas não dei nenhum, dizia que ia criar porque Deus ia me ajudar e me ajudou, criei tudinho e não devo a ninguém, nem ninguém deve a mim”, relembrou Dona Amália.

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A centenária revelou ao Farol que sempre foi uma mulher alegre que encara a vida com leveza e que é uma grande apreciadora da dança. Nas suas memórias não deixou de mencionar sua aproximação com Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, além de ter cozinhado para o Rei do Cangaço, contou que dançava com ele, conversavam e até comiam juntos.

”Toda vida gostei de todo mundo e toda vida fui feliz, eu gosto muito de dançar, ainda hoje eu danço um bocadinho, toda dança eu dançava. Eu cozinhei muito nas festas, as vezes deixava as panelas no fogo e dizia cuidado aí e ia dançar uma parte também, era um olho na panela e dois no forró. Eu dançava com Lampião, eu via ele, conversava, fazia comida para ele. Quando ele chegava em Bernardo Vieira exigia: ‘quero ver Amália’ e eu ia. Passava 3 dias 4 e não tinha medo, assava carne pra ele, ele comia mais eu e eu não tinha medo não.”

Dona Amália, no auge do seu centenário, está muito bem de saúde. Segundo ela, sempre foi uma mulher saudável, tanto ela quando os filhos, e o segredo era se cuidarem com remédios caseiros feitos de ervas medicinais. Já em idade avançada, ela sofreu dois AVCs que deixaram os membros do lado esquerdo do corpo adormecidos, porém ela afirmou que insiste em fazer alguma coisa em casa, inclusive tentar costurar.

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”As vezes a mão dá choque, não estou sentindo, mas faço as coisas, sou teimosa. Lavo prato, costuro. A mão dormente, as vezes não controlo a máquina, mas costuro. Eu costurava pra fora também, fazia calça, camisa. As vezes chegavam com uma caixa cheia de pano já a boca da noite e diziam: ‘Dona Amália, eu quero pra amanhã’ e eu passava a noite, quando chegavam bem cedo já estava pronto.”

Ainda durante a conversa com a reportagem do Farol, a matriarca relembrou muitas atribuições que tinha durante sua longa trajetória de vida. Mencionou que também fazia queijo, bolo, vassoura, plantava arroz, fiava algodão. Contou como era os transportes que usavam para se locomover até a feira de Floresta, onde vendia tudo que produzia, e afirmou que sente falta de tudo isso.

”Eu fazia queijo, fazia bolo para vender, plantava arroz, feijão, algodão, o arroz eu vendia na palha e pisado no pilão também. Eu me lembro e sinto falta, mas não posso mais fazer, fico na vontade. Eu tenho lembrança de tudo que eu fazia. Eu fazia vassoura de palha, eu aprendi na Serra do Arapuá, tirava a palha, fazia as vassouras e vendia na feira aqui e em Floresta. Levava as cargas em cima dos animais (cavalo, jumento, burro) montava na garupa ou no meio e ia embora”, relembrou.

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Dona Amália também relembrou a época que fiava algodão. Disse que batia com uma tora de pau, descaroçava e fiava no fuso. Ela tinha a máquina para descaroçar e o fuso para fiar, depois de fiar, vendia a linha ponta nos novelos grandes. E assim, diante de muito trabalho e muito amor pelos filhos, ela os criou, sem abrir mão de nenhum, mesmo com as pessoas insistindo que ela não daria conta de criar e educá-los sozinha.

O Farol também conversou com um dos filhos do primeiro casamento dela, o Senhor Antônio Laurindo da Silva, 70 anos, e ele afirmou que: ”Ela lembra muito das coisas do passado e as do presente, infelizmente, ela apaga ligeiro, mas tudo tem seus motivos. Eu queria que muitos chegassem a essa idade com essa vitalidade e esse gosto de querer viver, ela quer viver, continua querendo viver e graças a Deus está com saúde.”

Após cantar uma música que, segundo o filho Antônio Laurindo, ela costuma cantar, Dona Amália dispara dizendo: ”ainda hoje eu sou alegre, ainda hoje eu falo em casar, mas é brincando, eu toda vida farrei, dançava muito, eu sempre fui feliz,” disse a matriarca ao som de boas gargalhadas.