Publicado às 6h15 deste domingo (27)

Por João Luckwu, escritor e poeta serra-talhadense

Como diria o poeta e compositor Luiz Bandeira: “Quem é, de fato, bom pernambucano espera um ano e se mete na brincadeira”. Na cultura popular o vocábulo frevo é derivado do verbo “ferver”. A marcha entitulada “Vassourinhas” é um marco no carnaval pernambucano e atire a primeira pedra quem nunca sentiu um frenesi quando a orquestra começa a ecoar um  “pã rãn rãn rãn rãn rãn rãn“.

Levando-se em consideração as modalidades do frevo, podemos assim dizer que no de rua predomina a manifestação do corpo enquanto que nos frevos de bloco e canção, além da manifestação do corpo, possui também uma manifestação da alma, haja vista a presença marcante do lirismo e nostalgia, possuindo uma melodia mais cantável e um ritmo mais aprazível.

Na canção “Aurora de Amor”, o poeta Romero Amorim retrata o seu amor pela Rua da Aurora.

Meu Recife eu me lembro

De Aurora à janela

Debruçada tão bela!!

Sobre o Capibaribe

O seu rio namorado

E a sorrir flamboyants

Em vermelho rendado

(….)

Imortalizada na voz de Claudionor Germano, o mestre Capiba ressalta o amor de modo sublime na canção “Oh, Bela”!!

Você diz que ela é bela,

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Ela é bela, sim senhor.

Porém poderia ser mais bela

Se ela tivesse o meu amor

Capiba também nos apraz com a irreverência poética da canção “Madeira que cupim não rói” imortalizada na voz de diversos intérpretes.

(….)

E se aqui estamos, cantando esta canção

Viemos defender a nossa tradição

E dizer bem alto que a injustiça dói

Nós somos madeira de lei que cupim não rói

Os compositores Getúlio Cavalcanti, na canção “Último Regresso” e Nelson Ferreira com “Evocação nº 1” retratam dois clássicos da poesia. 

(….)

Falam tanto que meu bloco está
Dando adeus pra nunca mais sair
E depois que ele desfilar
Do seu povo vai se despedir
Do regresso de não mais voltar…..

(….)

Adeus, adeus minha gente

Que já cantamos bastante

E Recife adormecia

Ficava a sonhar

Ao som da triste melodia

Entretanto, há que se destacar a essência poética no hino do bloco “Elefante de Olinda – Olinda, Quero Cantar”, dos compositores Clídio Nigro e Clóvis Vieira.

(….)

Olinda!

Quero cantar

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A ti, esta canção

Teus coqueirais

O teu sol, o teu mar

Faz vibrar meu coração

De amor a sonhar

Minha Olinda, sem igual

Salve o teu carnaval.

Bem como na canção “Voltei Recife”, do compositor Luiz Bandeira, adaptada para o frevo de rua e imortalizada na voz de Alceu Valença.

(….)

Quero sentir

A embriaguez do frevo

Que entra na cabeça

Depois toma o corpo

E acaba no pé

Embora Pernambuco seja reconhecido nacionalmente como a “Capital do Frevo”, é em Olinda e Recife que ocorrem a maior concentração de foliões. Os blocos carnavalescos “Homem da Meia-noite”, em Olinda, e o “Galo da Madrugada”, no Recife, são os que mais se destacam.

No poema entitulado “Irmãs do Beberibe” eu fiz uma singela homenagem às cidades-irmãs Recife e Olinda, em comemoração à passagem de aniversário. A ideia surgiu com a união de duas décimas em decassílabos construídas em momentos distintos, a primeira em homenagem a Olinda e a segunda em homenagem ao Recife quando da participação em festivais de poesias organizados pelo Cordel Improvisado.

O poeta e músico paraibano Nelson Nunes Farias abraçou a ideia e, juntamente, com o poeta Simplício Lira – Pio demos musicalidade o poema. Neste contexto, surgiu a necessidade de construção de uma terceira estrofe.

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IRMÃS DO BEBERIBE

No enlace entre o sacro e o profano

És Olinda uma terra abençoada

A cultura em seu leito fez morada

Expressando o barroco lusitano

No maior carnaval pernambucano

A folia transcende a liberdade

Casarões são retratos da cidade

Preservando a fiel arquitetura

Capital brasileira da cultura

Patrimônio maior da humanidade

A beleza dos rios que te abraçam

Faz de ti a “Veneza Brasileira”

Tens no frevo a paixão mais verdadeira

Num compasso em que as pernas se entrelaçam

Teus corais nas areias se transpassam

Quando o mar vem beijar “Boa Viagem”

O antigo e o moderno se interagem

Marco Zero, Brennand, parques e vias

Oh, Recife! de encantos e magias

Semelhança divina em sua imagem

Com seu leito selando esta união

Margeadas ao Rio Beberibe

Simpatia pra ao mundo então se exibe

Despertando no ser uma paixão

São dois corpos pulsando um coração

Cada qual com seu jeito singular

No Recife o progresso a caminhar

A cultura em Olinda predomina

Em comum têm o frevo que fascina

E o abraço do rio com o mar

João Luckwu –  Serra Talhada-PE

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