Fotos: Celso Garcia/Farol de Notícias

Publicado às 05h23 deste domingo (23)

Houve tempos que o sonho de consumo não era um aparelho celular, ou equipamentos tecnológicos, e que a bicicleta era um dos meios de transporte mais desejados. Quem viveu a história do século XIX e XX nunca esquecerá o prazer que as ‘pesadas’ pedaladas lhe proporcionaram.  O serralhadense Paulo José dos Santos, 63 anos, do Bairro Nossa Sra. da Penha, filho de paraibanos, contou ao Farol de Notícias, nesta sexta-feira (21), sua história de amor com a bicicleta de modelo Monark Galáxia 1967, que ganhou do avô, por quem foi criado juntamente com a avó desde o nascimento. 

Paulo José contou para o Farol que a paixão por bicicletas começou quando ele ainda era criança. Aos seis anos, teve a primeira bicicleta comprada pelo avô, que o ensinou a pedalar. Mais tarde, aos 12, crescido, o brinquedo não lhe servia mais, e foi mandado para os seus quatro irmãos que moravam na Paraíba. Naquele momento, seu avô chegou até ele e o mandou ir à loja de João Duque escolher uma bicicleta. Era o ano de 1967 quando ele ganhou de presente a Monark Galáxia 1967. 

“Contente, saí aos pulos de alegria. Peguei a bicicleta. Eu a conservo até hoje. Os meus colegas, vizinhos, dizem: ‘Rapaz, por que você não manda pintar essa bicicleta?’. Eu vou mandar trocar somente os pneus e as câmaras de ar que estão ressecadas. Fora isso, está normal. Não era muito barata. Na época tinha um pessoal que alugava bicicleta por hora. Eram poucas pessoas que tinham bicicleta, principalmente uma nova. Andei muito nela com os meus colegas. Quando eu estudava, eu ia e vinha nela. Teve um dia que eu e um amigo meu fomos de bicicleta tomar banho no Açude do Saco, no Ipa, mas na volta, o pneu furou e viemos com ela nos braços. Foi uma das histórias que me marcou”, disse Paulo José, acrescentando detalhes sobre os cuidados e aventuras com a sua Monark:

“Quem assediava mais eram os colegas: ‘Deixa eu dar uma voltinha?’, eu dizia: ‘Não, não!’. Eu não dava a minha bicicleta a ninguém para andar, só quem pegava nela era eu. As namoradas eu deixava, porque cuidavam direitinho; mas os machos não. Eles queriam correr, dar cavalo de pau’. Eu andava normal, com cuidado, não dava aqueles freios extravagantes. Quando meu avô comprou, eu era pequeno e andava no quadro, colocava o pé, porque eu não alcançava em cima. Botava a perna na roda e saía de banda, porque eu não alcançava a cela. Andava até normal. Quando era para parar, as pernas não alcançavam o chão, tinha que parar no meio fio alto, colocar as penas numa calçada alta, ou segurar na porta de uma casa, segurando na parede. Depois que cresci andava normal”. 

Ainda hoje os cuidados continuam: “Há certo tempo, resolvi fazer uma reforma na casa, mandei pintar. Uma irmã minha, que mora em Manaíra, depois da reforma, veio fazer uma limpeza. Chegou e disse: ‘Vou pegar essa bicicleta, vou botar ali no muro, porque está atrapalhando aqui’. Eu disse: ‘Não! O canto da bicicleta sempre foi esse aí. Se você quiser pegar o carro ou outra coisa qualquer, pode levar para o muro, mas a bicicleta não!’. Essa bicicleta para mim é tudo!  É uma lembrança do meu avô, ele deixou para mim, e eu sou muito apegado. Ele partiu em agosto de 1981. Enquanto eu for vivo, não vou me desfazer de jeito nenhum. Meu avô tinha uma venda. Eu transportava os botijões na bicicleta. Depois que meu avô faleceu acabei com a venda, mas a bicicleta continua”.