Por Ananias Solon, Pesquisador e Zootecnista

Assistindo o Programa Meu Canto e Meu Encanto produzido pelo historiador e escritor Prof. Paulo César através da TV Farol, uma matéria relatando histórias e memórias do sítio Pitombas, banhado pelas águas do Rio Pajeú, me chamou atenção!

Em se tratando do nosso soberano e saudoso Rio Pajeú, que hoje vive tomado pela evolução dos tempos. Continua agonizando, pedindo socorro para sobreviver das agressões causadas pelas degradações. Principalmente sua mata ciliar original sendo invadida pelas algarobas, que resiste às secas, mas prejudica nossa mata nativa.

Achei interessante e me remeteu ao passado. Lembrando de um grande episódio inédito da minha vida. O caso eu conto, como de fato foi: Era um sábado de manhã, o dia estava turvo, época da estação chuvosa.

Mês de março década de 1970, e como narra a matéria do Prof. Paulo César, era tradicional naquela localidade, Sítio Pitombas, os jovens fazerem passeios, piqueniques, jogos etc.

Atraídos pelas belezas das praias banhadas pelas águas do Rio Pajeú, principalmente nas épocas que o rio estava com suas águas correndo.

Foi no belo final de semana que combinamos eu, Sormany e o primo Carlos Molton, filho do saudoso tio Zé Mitonho proprietário da Fazenda Quixaba, sendo do outro lado do Rio das Pitombas.

Chegando no local combinado que era no Sítio Pitombas, de propriedade de Seu Preto Inácio. Lá já estava nos esperando, o primo Carrim de Zé Mitonho com toda alegria e satisfação, mas com um semblante diferente, dizendo que tinha uma novidade.

E foi logo dizendo que o rio estava de nado e chegando muita água. Sormany foi logo dizendo que não sabia nadar direito. Eu também fui logo lamentando que não deixava minha bicicleta monareta em canto nenhum.

Mas empolgados nas emoções e com espírito aventureiro de meninos guerreiros, decidimos dar uma olhada na beira do rio. Como de costume, dando uma parada para saborear as delícias das frutas roubadas (manga e cajú) no sitio de seu Preto Inácio.

Ficamos maravilhados e encantados com a grandeza da correnteza das águas. Diante daquele cenário que nos causou uma sensação de medo e alegria, provocando um aumento de adrenalina. Nos deixou a dúvida se desistíamos ou seguíamos em frente. Entrando naquelas águas barrentas, mas convidativas para um belo banho.

Aí meu primo Carrim, muito experiente, astucioso, acostumado atravessar o rio de todo jeito, sendo bom de nado. Deu uma sugestão: pegamos 2 troncos de mandacaru seco, amarramos com embira de capar bode, e lá estava uma tremenda balsa.

Jogamos ela na beira do rio, e ficamos dando os retoques finais. Já com água no pescoço amarramos a bicicleta monareta. Sormany, que era ruim de nado subiu na balsa, e demos início a travessia do rio.

Descendo de rio a baixo, Eu, Sormany, Carrim e a Monareta, navegando nas água do Rio Pajeú na maior felicidade do mundo. Quando já no meio do rio, no embalo da correnteza e nos galões das ondas violentas, formou-se um remanso. Causou o naufrágio de nossa balsa.

Naquela inesperada tempestade, Sormany agarrou nos ombros do primo Carrim. E ele com sua habilidade atleta, conduziu até às margens do rio.

E eu desci de rio abaixo agarrado no guidon da minha monareta que tanto gostava e não queria perder. Mesmo diante daquela tragédia. Foi então que a tremenda balsa ancorou em uma moita de calumbi, nas margens do rio muito adiante.

E lá eu estava. Despido, desolado escutando a zuada da correnteza das águas, sentado na salsa olhando para minha inseparável monareta. Em estado de aflição, com o coração apertado e sem saber o destino do meu irmão Sormany e do primo Carrim.

Foi então que escutei um grito (tipo Tarzan) bem em cima da barreira do rio: “Nanias, estamos aqui!” Eu levantei a vista e vendo aquela cena. Fiquei em estado choque, não sabia se chorava ou se gritava de alegria.

Essa história vazou e chegou aos ouvidos de nossa querida mãe, Dona Luiza. Resultado: ganhamos uma grande pisa. E um castigo de 2 anos sem poder ir na fazenda do meu tio Zé Mitonho.