Por Ricardo Noblat, da Revista Veja

Onde se leu: Jair Bolsonaro diz que no seu governo jamais loteará cargos públicos em troca do apoio de partidos, leia-se: para prevenir-se contra um pedido de impeachment que possa custar-lhe o mandato, o presidente Jair Bolsonaro passou a oferecer cargos públicos a partidos em troca de votos no Congresso.

Que perdoe o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria do Governo, que acumula o Ministério das Boas Notícias e reclama da imprensa que, segundo ele, só parece enxergar as notícias más. A compra de apoio por Bolsonaro não é uma notícia nem má nem boa. É simplesmente notícia e não pode ser ignorada.

Veja também:   Morte de garoto no Sertão pode ter ligação com a 'baleia azul'

Um devoto do presidente, ontem, no cercadinho do Palácio da Alvorada, perguntou-se se era verdade que ele está oferecendo os cargos que prometera reservar só para pessoas de sua inteira confiança. Bolsonaro irritou-se com a pergunta e deu uma resposta malcriada. Sim, ele anda bastante nervoso ultimamente.

Foi obra dos ministros militares que o cercam convencê-lo de que o governo de cooptação não é tão mal assim. E que sem partido desde que abandonou o PSL pelo qual se elegeu, sem votos para aprovar seus projetos no Congresso, seria recomendável que procedesse como os presidentes que o antecederam.

Veja também:   Amor e conflito entre Frida Kahlo e Diego Rivera marcam exposição

Os bolsonaristas sinceros, porém radicais, ficarão furiosos, é certo. Mas por sinceros e radicais, serão obrigados a continuar a defende-lo à falta de opção. Os bolsonaristas móveis ou em trânsito, esses não são confiáveis e já estão em trânsito, embora ainda não saibam para onde. Poderão retornar ao regaço de Bolsonaro.

O chamado governo de coligação funcionou à época dos presidentes Itamar e Fernando Henrique. À época de Lula, funcionou, mas deu na Lava Jato. À época de Dilma, não foi suficiente para que ela completasse o segundo mandato. À época de Temer, sustentou-o, mas não o impediu de ser preso depois.

Veja também:   Duque começa 'Circuito do Carnaval' em Triunfo

Bolsonaro, e mais ninguém, é que sabe onde lhe apertam os calos e, no momento, a dor que deveras sente empurra-o na direção que jurou nunca ser capaz de trilhar. A Velha Política, essa está assanhadíssima e pronta a jurar-lhe fidelidade enquanto dure o amor e não se apague a chama.