Publicado às 05h11 desta quinta-feira (29)

Por Giovanni Sá, editor-geral do Farol

Foi com profunda tristeza que recebi a informação do duplo homicídio ocorrido nessa quarta-feira (17) em Serra Talhada, tendo como vítimas Cirilo Diniz de Carvalho, 87 anos (foto), e sua esposa Maria do Socorro Bezerra Carvalho, 82 anos. Cirilo, para quem não conhecia, era primo do saudoso padre Afonso Carvalho, e passou uns tempos residindo com o pároco. Leitor voraz, costumava encontra-lo nas calçadas, mas principalmente, dentro do supermercado. Nossos encontros eram pautados por sorrisos e abraços, e longas conversas. Assim como eu, também era poeta, mais um laço que nos aproximou.

Mas o que sempre me fascinou no mirandibense que residia em Serra Talhada era a alimentação da utopia. Quando nos encontrávamos, nos tratávamos de ‘subversa’, uma corruptela da palavra subversivo. Gostava de ‘beber’ em suas memórias sobre o nefasto período da Ditadura Militar. No dia 9 de abril de 1964, Cirilo Carvalho foi preso no quartel do Exército, em Recife, onde ficou por 50 dias. “No dia da minha prisão foi assinado o Ato Institucional número I (AI-I) que limitava as liberdades individuais. Fiquei preso na 2º Companhia de Guarda sob o comando do coronel Ibiapina”, declarou numa entrevista que me concedeu em março de 2012.

Me provocava o tempo todo a saber usar o meu senso crítico. Um professor! Ficava minutos parado ouvido as suas teses, onde hora e outra era compassada por pigarros na garganta. O ‘subversa’ era encantador, e quando queria, dava ‘puxões’ de orelhas com muita candura. Quase um afago. A morte do ‘subversa’ é mais um alerta com relação ao estado de barbárie que foi instalado no Brasil, onde o ser humano não vale nada. Aos familiares e amigos enlutados, rogo paz de espírito, e vida eterna ao casal Cirilo Carvalho e Socorro Bezerra. Adeus, subversa!