Publicado às 05h13 desta quarta-feira (19)

Por Flaviano Roque, cronista e advogado serra-talhadense

Pela passagem do dia de tão nobre profissão, com fecho ocorrido no último 11 de agosto, as felicitações de hoje vão para os nobres advogados. Função essencial na produção da justiça, sem dúvida! Não existe equidade sem envolvimento emotivo, a não ser que a deusa Themis seja, além de cega, manca e ruim de acordo, os gravatas (os bons) continuarão na luta. E, por esse ponto, eles cumprem bem o seu mister; dão olhos a uma justiça enviesada, careta e de poucos amigos e atenuam a rispidez de quem não precisa do cliente para existir.

Bravos! Lutam pela defesa do seu constituído, às vezes com unhas e dentes, outras vezes com uma caneta afiada, dedos nervosos. É sem jeito, a imparcialidade do juiz, tão cara ao nosso Estado Democrático — embora alguns juízes sejam uns super-homens —, deve ser compensada pelo amor ao patrocínio de uma causa. Caso contrário, as máquinas fariam todo o trabalho na aplicação dos códigos, friamente, resolvendo as lides sem muito alvoroço e tabelando os danos morais conforme algum algoritmo qualquer. A figura de um bom intercessor, pago pelos bolsos suados do litigante, ainda representa a face mais humana do Direito.

Nem tudo são rosas, nem só de leis vive o advogado… Até se formar patrono, não há como negar a prostituição a qual passa a ciência jurídica frente à facilitação do ensino. Esse magistério, quando pouco propedêutico, torna-se extremamente técnico; pode formar homens e mulheres bem vestidos, alinhados, perfumados e, por que não, ardilosos na arte de ganhar dinheiro, mas bacharéis de verdade, muito poucos são forjados durante os cinco anos de academia. A memorização de um tanto de leis e macetes, trocadilhos e adivinhações, nunca vão entrar na história como arte jurídica, embora nada mais vendável hodiernamente, o direito será sempre uma faísca da humanidade em busca de liberdade. E não é por que o nobre “doutor” se formou agora que, necessariamente, precisa aceitar as coisas do jeito que são. Ora, seja mais que um bacharel, seja de fato um defensor, mesmo de causas perdidas.

Eu bem recordo que, na minha época, fui orador da turma — carteira de advogado no bolso, paletó comprado no Juazeiro/CE, gravata roxa e sapato brilhante; era meu primeiro traje e, por assim dizer, minha primeira causa —, narrei no auditório algo sobre as três metamorfoses do Zaratustra de Nietzsche. Eram mais de vinte guerreiros (alguns irmãos) e começamos, ali mesmo, nossa jornada. Disse-lhes que o homem primeiro é leão, depois camelo e, por fim, uma criança: alguns compreenderam, outros não. Por fim, após palavreados de juridiquês, recordações dos primeiros estágios e das últimas audiências simuladas, desejei um bom começo àqueles futuros nomes de destaque de Serra Talhada e região, com humildade e consciência do que ainda tínhamos para aprender.

Nada mais atual, rogo que a Faculdade de Direito não deva, tão somente, formar leões fortes para derrubar tudo em que tocam, faltando com a ética do estatuto; ou mesmo que fique limitada a meros camelos, a fim de suportar a carga que lhes põem nas costas sem nunca reclamar. O ideal é terminar os curso com uma alma de criança. Pronta para recomeçar, de um misto de inocência e vontade tão presente nos grandes defensores. Sem malabarismos ou desvios, ser jurisconsulto não é coisa de um dia. E talvez a única presunção “Juris et de Jure” que conheço seja essa: existe uma criança dentro de todo bom advogado. Avante doutores!

Serra Talhada, 19 de agoto de 2020,

Flaviano Roque.