Agricultores alertam para impactos nocivos de parque eólico em STPublicado às 20h30 desta quinta-feira (6)

Fotos: Celso García/Farol

Agricultores da cidade de Caetés e Garanhus, no Agreste, vieram à Serra Talhada nesta quinta-feira (6) com a missão de conscientizar e alertar agricultores e produtores rurais locais sobre os malefícios da instalação de estruturas de energia eólica na zona rural da Capital do Xaxado. A possibilidade de implantação desses parques já vem sendo estudada, inclusive, com um local a ser escolhido: o distrito de Caiçarinha da Penha.

No entanto, em entrevista à TV FAROL, no Programa Falando Francamente, nesta quinta-feira (6), representantes do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Caetés revelaram em detalhes a experiência negativa após muitos assinarem contrato com as empresas responsáveis pela geração de energia para instalação das torres eólicas em suas propriedades. Um dos agricultores entrevistados, “Seu Simão“, alerta que no contrato há apenas direitos para as empresas. E ainda uma multa milionária para quem desistir do contrato.

“A gente vem trazendo um alerta, porque a gente foi pego de surpresa com esses empreendimentos, são grandes empreendimentos e quando as usinas começaram a gerar a energia foi quando veio os problemas nas famílias, na produção e na saúde das pessoas, com os ruídos dos aerogeradores. Então, estamos sofrendo esses impactos. Lá em Caetés e nos outros municípios a gente está correndo atrás do prejuízo e aqui  [em Serra Talhada] vocês ainda têm como reverter esse quadro para que não aconteça o que está acontecendo no Agreste meridional”, avisou “Seu Simão”.

POPULAÇÃO E ANIMAIS COMEÇARAM A ADOECER

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Os produtores e agricultores de Garanhus e Caetés começaram a adoecer, especialmente devido a falta de sono e à ansiedade ocasionada pelo barulho das aerogeradoras. Isso acabou afetando também a cotidiano dos animais, que pararam de produzir gradativamente. Num dos relatos, os agricultores de Caetés revelaram que, quando as hélices giram, soltam um pó químico prejudicial à saúde que acaba caindo nos telhados e nas calhas da casas. O pó vem contaminando as cisternas de consumo próprio de água através do sistema de captação de chuvas.

Os agricultores temem agora que o pesadelo que estão vivendo por lá seja reproduzido também em Serra Talhada. Com isso, eles tem tido o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Fetape (Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco) e de um grupo de professores ligados à área da Saúde e Agroecologia da Universidade de Pernambuco (UPE), que estão preparando uma pesquisa de campo visando o mapeamento dos impactos desse tipo de instalação em comunidades rurais que dependem da produção agrícola para sobreviver.

“Foi uma propaganda [por parte das empresas] muito convidativa para a população, que não sabia o que significava uma parque eólico e eles chegaram dizendo que esse empreendimento ia trazer uma renda para as famílias, que ia trazer um tipo de aposentadoria que o agricultor não precisaria mais trabalhar e até mesmo nem correr atrás de uma aposentadoria por idade, e tudo foi uma propaganda enganosa, trouxe problemas e nada do que eles prometeram foi cumprido”, alertou “Seu Simão“.

O CASO DE SERRA TALHADA

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Aqui em Serra Talhada, os agricultores e agricultoras contam com o apoio do Instituto Serra Grande, através do seu coordenador e ativista Álvaro Severo, que também participou da entrevista na TV FAROL. Álvaro agora busca o apoio do poder municipal, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da AMMA (Agência Municipal de Meio Ambiente), para conseguir implementar uma lei municipal em que se evite os malefícios aos agricultores e que também haja participação popular nas decisões.

“Existem várias empresas, a maioria originárias do Rio Grande do Norte (RN) que estão fazendo prospecção em vários pontos da cidade [de Serra Talhada] e eles, mesmo sem ter licença ambiental estadual e municipal, eles já estão cooptando os agricultores [serra-talhadenses] para fornecer documentação e assinar contratos. Esse volume de contratos assinados serve para eles como justificativa [de dizer] que é uma demanda da comunidade. Mas nos contratos só há direitos para a empresa”, revelou Álvaro, alertando:

“Eles [as empresas] fazem uso da proposta sedutora de que os agricultores só vão ter retorno financeiro, só que o retorno ele não é garantido no contrato. Há além disso o impacto na produção agrícola e pecuária. Além disso quando você assina o contrato, você perde os seus direitos de segurado especial, o contrato só é bom para empresa”.

“Eles estão nessa estratégia de procurar pessoas que têm pouco acesso à informação com uma promessa bonita, prometendo uma mudança de vida, mas é uma carga de perdas incomensurável, e esse é um papel do Instituto Serra Grande é também ajudar ajudar a trazer conscientização e proteger a comunidade. E a ideia de conversar com o poder público é para que no futuro não exista uma massa de agricultores serra-talhadense reclamando ao município. [As empresas] precisam de concessão ambiental municipal e estadual”, explicou Álvaro.

VEJA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA NA TV FAROL