Do G1

Se a indústria fonográfica do Brasil tivesse o zelo de seduzir colecionadores de discos com edições especiais de álbuns antológicos, como ainda é praxe no mercado internacional em que pese a supremacia do formato digital, o álbum Álibi estaria na pauta para merecer reposição em catálogo em 2018, ano em que completa 40 anos.

Álbum que massificou o canto de Maria Bethânia, tendo sido lançado em 1978 pela gravadora Philips, Álibi merece ao menos uma reedição em LP porque é um clássico da era do vinil.

Bethânia ganhara projeção nacional desde que entrou em cena em fevereiro de 1965, em palco da cidade do Rio de Janeiro (RJ), substituindo Nara Leão (1942 – 1989) no teatralizado show Opinião. Passada a euforia inicial, a intérprete baiana se libertou do rótulo de “cantora de protesto” e foi construindo identidade teatral ao longo de espetáculos antológicos, cultuados, mas não exatamente massivos.

Foi a partir de 1976, com a gravação de Olhos nos olhos (Chico Buarque) feita para o álbum Pássaro proibido (1976), que a voz de Bethânia começou a ser propagada pelas ondas populares das emissoras de rádio AM. Seguiu-se outro álbum de sucesso, Pássaro da manhã (1977), mas o estouro mesmo veio com Álibi, LP que teria vendido efetivamente cerca de retumbantes 800 mil cópias (o alardeado milhão de exemplares teria sido mais uma estratégia promocional da gravadora diante da inexistência de números oficiais).

O repertório deste disco – batizado com nome de música inédita do então emergente compositor Djavan e produzido pela própria Bethânia com Perinho Albuquerque, autor dos arranjos orquestrais – é praticamente um greatest hits da discografia da cantora.

Duas músicas em especial reverberaram em todo o Brasil, Explode coração (Gonzaguinha, 1978) e Sonho meu (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1978), samba gravado por Bethânia com a voz cristalina de Gal Costa, mas quase todas as faixas do álbum se tornaram importantes na obra da intérprete.

Dona do dom, Bethânia tomou para si dois sambas-canção, Ronda (Paulo Vanzolini, 1953) e Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos, 1960), desde então associados à voz dramática da cantora.

Compositor recorrente na discografia de Bethânia desde 1971, Chico Buarque marca tripla presença no repertório de Álibi como compositor dos boleros O meu amor (1977) – de versos sensuais divididos por Bethânia com Alcione – e De todas as maneiras (1978), além da cortante Cálice (1973), censurada parceria de Chico com Gilberto Gil, lançada cinco anos no evento Phono 73, mas gravada em disco somente naquele ano de 1978 por conta da proibição oficial.

Da lavra do mano Caetano Veloso, Bethânia apresentou o samba-choro Diamante verdadeiro e a canção A voz de uma pessoa vitoriosa, parceria de Caetano com o poeta Waly Salomão (1943 – 2003).

A única música menos conhecida de Álibi, tendo ficado esquecida ao longo desses 40 anos, é Interior, delicada composição de Rosinha de Valença (1941 – 2004), presente ao longo do disco com o toque preciso do violão.

Enfim, Álibi é um dos títulos perfeitos da discografia majestosa de Maria Bethânia, que roçaria o êxito no álbum seguinte, Mel (1979). Disco de tom exteriorizado, Álibi conserva a nobreza após 40 anos e, por isso mesmo, merece voltar ao catálogo para que novas gerações apreciem em CD ou LP esse clássico da era do vinil.