20160108105621788645i(Do Correio Brasiliense)

“Trata-se de romper o mito em torno desse libelo antissemita”, afirmou, no início de dezembro, Andreas Wirsching, diretor do Instituto de História Contemporânea (IFZ), de Munique. A equipe de Wirsching assumiu em 2009 a tarefa hercúlea e controversa de reunir as 3.500 notas históricas que acompanham o texto.

O único livro escrito pelo ditador nazista entre 1924 e 1925, enquanto cumpria uma pena de prisão, passou para domínio público em 1o de janeiro, segundo a legislação alemã. Os direitos autorais, portanto, deixaram de existir, depois de ter ficado desde 1945 nas mãos do Estado regional da Baviera, que os recebeu das forças de ocupação americanas. Em muitos países, onde já está disponível a obra de propaganda que teoriza sobre a ideologia nacional-socialista e o desejo de eliminar a comunidade judia, o fim dos direitos autorais não mudará quase nada.

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O livro já tem uma ampla divulgação em países como Brasil ou Índia. Nos Estados árabes, ‘Mein Kampf’ é encontrado facilmente e, na Turquia, foram vendidas mais de 30.000 cópias desde 2004. Ele não é proibido nos Estados Unidos e alguns países da Europa do Leste começaram a publicá-lo depois d fim do comunismo. Além disso, pode ser encontrado na rede, como em alguns sites salafistas que fazem traduções não autorizadas.

Na Europa, o relançamento do livro é um assunto muito delicado, principalmente na Alemanha, onde foram vendidos 12 milhões de exemplares desde 1945. “Com o fim dos direitos autorais, há um grande perigo de ver esse lixo ainda mais disponível no mercado”, lamentou o presidente da comunidade judia da Alemanha, Josef Schuster.

O interesse da reedição levantou um debate em que poucos querem participar. A ideia é desconstruir e contextualizar o ideário do nazista, questionando como nasceram suas teses e quais eram seus objetivos. Para o jornalista Sven Felix Kellerhoff, autor de um livro sobre a história de ‘Mein Kampf’, a negativa das autoridades em permitir sua publicação ajuda a transformar o livro num mito.

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Imunizando os adolescentes

A Alemanha e a Áustria continuam proibindo a publicação do texto puro sob ameaça de ações legais por incitação ao ódio, mas as versões comentadas agora é possível na Alemanha. A iniciativa do IFZ, que causou mal-estar nas autoridades bávaras, é “contextualizar os escritos de Hitler”. “Como nasceram suas teses? E, principalmente, como podemos opor com nossos conhecimentos de hoje às inúmeras afirmações, mentiras e declarações de intenção de Hitler?”, questiona o instituto. Um sindicato de docentes alemães declarou-se favorável a este relançamento para “imunizar os adolescentes contra o extremismo”, mas descarta que seja “uma leitura obrigatória”.

Tabu em Israel

“Conhecer ‘Mein Kampf’ continua sendo importante para explicar a Shoah e o nacional socialismo”, afirma Josef Schuster, presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, que, no entanto, teme que a obra a presença maior da obra no mercado. Em Israel, a difusão da obra continua proibida a um público maior, e agora essa situação deverá mudar. Murray Greenfield, fundador da editora Gefen Publishing, especializada na história do judaísmo e cuja esposa sobreviveu ao Holocausto, foi bem claro. “Jamais publicarei este livro, mesmo que paguem por isso”, sentenciou.