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FOTOS: ALEJANDRO GARCIA / FAROL

Cícero Daniel dos Santos reside no bairro do Mutirão, na periferia de Serra Talhada. Ele Costuma ficar sentado por horas na esquina da sua casa, contemplando o bairro que é sinônimo de abandono por parte das autoridades. ‘Seu’ Cícero, como é mais conhecido, seria mais um no cenário de desolação se não fosse pela idade e pela história. Aos 105 anos, sofre com a perda de parte da visão, mas tem uma memória quase infalível. A reportagem do FAROL conversou com ele na última sexta-feira (28), que fez questão de abrir seu baú de memórias. Uma das das cicatrizes, é a famosa estiagem de 1932.

“Vou fazer 106 anos em agosto do ano que vem. Ave Maria, me lembro muito da seca de 32. Foi a pior seca que teve. Muito pior do que essa. Nós (a família) fomos escapar em Palmeiras dos Índios (AL). Era muita fome. Neste tempo eu não tinha pai e quem trabalhou pra criar nós foi minha mãe, que lavava roupas. Topei um bocado de vida ruim e muita seca”, declarou Cícero Daniel, com um semblante de quem estava falando de um fantasma recente.

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Mas os desafios que enfrentou em mais de um século de vida foram muitos. Daria páginas de um bom livro. Cícero Daniel teve paralisia infantil aos nove meses quando perdeu parte dos movimentos da perna direita. “Isso aconteceu por conta de um banho de água morna. Mas segui a minha vida normal”, revelou. Se fosse colocar na balança, o centenário trabalhador possui mais serviços prestados do que certos políticos que costumam usar a retórica como escudo.

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“Eu ajudei a construir a linha férrea que passa por Serra Talhada. Nessa época eu trabalhava na Collier. Eu fiz os alicerces da Estação Ferroviária e também trabalhei no Dnocs. Eu quebrei muito concreto para construir o paredão da barragem do Cachoeira. Era quatro lata de concretos que quebrava por dia. Me levantava de madrugada e ia para pedreira e metia a ripa pra cima quebrando pedra para botar na parede do açude”, relembra ‘seu’ Cícero, arrematando: “Nós passamos dez anos para construir aquela parede. Foi rojão, mas participei da construção daquela barragem”.

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Natural de Juazeiro da Bahia, antes de chegar a Serra Talhada Cícero Daniel viveu em Flores, no Sertão do Pajeú, mas foi na capital do xaxado que construiu sua prole. Foram 15 filhos, dos quais, apenas 4 sobreviveram. Questionado se teria uma receita para longevidade, ele foi enfático:

“Eu não tenho receita nenhuma e nem tomo remédio. Não tenho mais esperança de nada na vida. Eu acho que não chego aos 106 anos, não tenho mais a visão. Daqui pra frente, seja o que Deus quiser”, finalizou, aproveitando para abrir um largo sorriso.

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