depressaoPublicado às 14h30 desta sexta (7)

Após a campanha nacional do ‘Setembro Amarelo‘ ter provocado debates e atividades de sensibilização em Serra Talhada alertando para a prevenção e a realidade do suicídio no país, a Polícia Civil da Capital do Xaxado deve abrir inquérito sobre a morte de duas pessoas só esta semana, onde investiga a possibilidade delas terem tirado a própria vida. Os casos acabaram chocando a população.

Um deles ocorreu nesta sexta-feira (7), no bairro da AABB, vitimando uma estudante de 19 anos. O outro foi registrado na última terça (4), no bairro da Cohab (relembre), envolvendo um mototaxista de 37 anos, que acabou matando também a própria esposa. Diante a importância do debate sobre o tema, o FAROL conversou com especialistas na área de psicologia para analisar as possíveis causas e medidas preventivas para um problema ainda muito pouco discutido na sociedade.

De acordo com o padre e psicólogo com mestrado em Psicologia Clínica pela Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), Otaviano Bezerra, o suicídio é considerado uma atitude extrema, onde em muitos casos a vítima não suporta um sofrimento e perde o sentido de viver. “A pessoa não se sente mais com vontade de seguir em frente por não enxergar outras alternativas para sair do estado psicológico em que se encontra e acaba não vendo mais a importância na vida. Geralmente é causado por um estado de loucura momentâneo, que causa desespero ou uma forte decepção”, analisou.

Para a psicóloga Mêres Mourato, especialista em terapia cognitiva comportamental, formada também pela Unicap, o suicida não quer tirar a própria vida, mas por fim a uma angústia que o afeta no momento. “Ele tenta matar o problema. Comumente isso é chamado de cinco minutos de loucura”, reforça. Ela atenta especialmente para o quadro depressivo que pode levar ao suicídio e que, por isso, necessita do acompanhamento constante de um especialista.

DEPRESSÃO É UM GATILHO

O paciente deprimido nem sempre apresenta para os amigos e família aquele clássico comportamento de tristeza excessiva, enfatiza Mêres Mourato. “O transtorno depressivo pode ser mais sutil, manifestando-se como perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, ausência de planos para o futuro, alterações do padrão de sono, isolamento social ou baixa autoestima. Alguns dos fatores psicológicos associados à depressão são traumas na infância, estresses emocionais e depressão pós-parto”. Segundo os psicólogos ouvidos pelo FAROL, o papel da família é de extrema importância na medida que compreende e tenta ajudar o ente querido, com o apoio essencial do profissional da área.

“A depressão é uma das grandes causas do suicídio e essas pessoas devem estar sempre assistidas. Na minha metodologia, não trato a depressão como doença, mas como sintoma. Como a febre, por exemplo, é sintoma de infecção a depressão chega dizendo: ‘olha, eu preciso rever a minha vida’. Ainda nesta analogia, como um resfriado evolui para uma gripe e depois uma pneumonia levando a morte, assim é com a depressão. O papel da família nesse momento é importantíssimo, pois deve estar sempre junto da pessoa e com o auxílio do especialista que poderá ajudar o paciente a enxergar uma nova orientação para a vida, encontrando junto com ele novos caminhos e possibilidades. A depressão pode afetar qualquer um de nós”, assegura o padre Otaviano Bezerra.

Mêres Mourato alerta para o aparente amadurecimento precoce dos jovens e conta que muitos pacientes seus com quadro de depressão já pensaram em tirar a própria vida, mas com ajuda mudaram de ideia. “Eu recebo diversos pacientes em meu consultório que começaram o tratamento da depressão e hoje agradecem por não ter tido coragem de tirar a própria vida. Alguns casos nos fazem pensar nas relações familiares, como nós serra-talhadenses estamos desenvolvendo a nossa dinâmica familiar. As crianças precisam de amor desde a primeira infância e isso deve continuar na adolescência, os adolescentes hoje parecem mais maduros, mas não são. Precisam do acompanhamento dos pais constantemente”, complementa.

SETEMBRO AMARELO

A campanha do ‘Setembro Amarelo’ em Serra Talhada foi puxada por estudantes e professores do curso de psicologia da Facisst (Faculdade de Ciências da Saúde de Serra Talhada) e contou com palestras, debates e oficinas de sensibilização. A campanha é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que realizaram as primeiras atividades contra o avanço do suicídio no país em 2014. Em dois anos a campanha nacional tem crescido e agregado milhares de apoiadores.