Do RFI

 

Milhares de cidadãos russos continuam a fugir do país após a convocação, pelo presidente Vladimir Putin, da mobilização de cerca de 300 mil reservistas. Muitos chegam de avião à Sérvia, Armênia, Geórgia e Turquia; outros escolhem vias terrestres, rumo a países europeus que fazem fronteira com a Rússia. A RFI encontrou alguns na vizinha Finlândia.

Na cidade de Lappeenranta, a cerca de 26 quilômetros da fronteira com a Rússia, o enviado especial Denis Strelkov conversou com jovens russos que resolveram deixar o país às pressas para não combater na Ucrânia.

“Sou de Korolev, na região de Moscou. Fiquei sabendo da mobilização através de um amigo. Sabíamos que isso poderia ocorrer, mas quando isso se tornou real, foi um choque”, afirmou Anatoly. “A primeira coisa que eu e minha esposa fizemos foi preparar uma autorização para sair da Rússia em direção à Europa. Ao me despedir dela e da minha filha, tive a impressão de que passarei muito tempo sem vê-las. Sabemos que nada de positivo deve ocorrer diante desta situação, que tudo pode piorar”, complementou.

Vagas em hotéis somem

Mikhail conta que fez de carro o trajeto entre Moscou e Lappeenranta, de cerca de 900 quilômetros. “Sou militar de reserva e devo estar entre os primeiros da lista a ser convocados para ir para a Ucrânia. Quando soube da mobilização, passei correndo na minha casa e peguei algumas coisas. Tenho um visto para entrar no espaço Schengen”, diz. “Tinha pouca gente na fronteira com a Finlândia. Mas fazia poucas horas que o anúncio foi feito, nem todo mundo se deu conta do que pode acontecer e nem todo mundo pode abandonar sua casa desta forma”, relatou.

O reservista disse que esperou cerca de 40 minutos para entrar na Finlândia. “O clima era tenso, todo mundo em choque, perguntando o que fazer. As vagas nos hotéis pela internet estão sumindo em segundos”, comentou.

UE não adotou posição comum sobre a chegada de russos

Em Bruxelas, o correspondente Pierre Benazet ressalta que a União Europeia é, “em principio”, solidária com os russos que deixam o país às pressas. Entretanto, uma posição oficial e comum sobre a chegada de russos nas fronteiras ainda não foi adotada.

O bloco suspendeu, em agosto, o acordo de facilitação de vistos de pessoas vindas da Rússia e, desde então, cada um dos 27 países-membros gerencia a questão como bem entende. A Comissão Europeia frisou que, se um pedido de asilo é formalizado, o direito internacional obriga os países europeus a examinarem a documentação. Mas a tomada de uma decisão enquanto bloco deverá “considerar as questões de segurança”, o que inclui um reforço do controle das chegadas.

Os países fronteiriços com a Rússia são reticentes em aceitar abertamente o fluxo de potenciais desertores russos. O ministro letão das Relações Exteriores, por exemplo, evocou os riscos desse acolhimento e lembrou que muitos dos reservistas não protestaram contra a guerra em si. Por essa razão, Edgars Rinkēvičs defende que eles devem se dirigir a um país não europeu.