estupro-guarulhos(Do Correio Brasiliense)
Um desabafo nas redes sociais de uma jovem de 24 anos que denuncia ter sido estuprada pelo chefe da equipe de segurança de uma festa no réveillon causou grande repercussão nas redes sociais e debate entre especialistas. “Parece que o indivíduo se entregou e disse que foi ‘consensual’. Estou tremendo, com a boca seca, com taquicardia… É um absurdo!!!”, afirmou a vítima.

Na madrugada do domingo, o suspeito de ter cometido o crime se apresentou à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), na Asa Sul. Wellington Monteiro Cardoso, 33 anos, dono e coordenador da empresa Ello Serviços Especializados, responsável pela integridade dos participantes do evento, admite ter levado a moça ao estacionamento e praticado sexo, mas afirma que o ato foi consentido pela jovem. Em entrevista ao Correio, ele disse que tudo ocorreu em menos de 10 minutos e admitiu ter chamado um outro segurança da festa para também manter relações com a jovem.

A estudante da Universidade de Brasília (UnB) fez um relato nas redes sociais um dia depois de comparecer à Delegacia da Mulher e, também, após passar por exames no Instituto Médico Legal (IML) e no Hospital da Asa Sul. Ela terá de tomar um coquetel anti-HIV durante 28 dias para prevenir Aids. Na denúncia, a moça, que mora em Santa Maria, publicou que estava na entrada da festa The Box – Reveião, na Acadêmicos da Asa Norte, quando foi abordada por um dos seguranças.
Segundo o texto, ela estava alcoolizada, teve medo e se sentiu coagida a acompanhá-lo, por representar a “autoridade” do evento. Nas redes sociais, houve muitos comentários e julgamentos sobre ela ter bebido ou por não ter feito a denúncia no momento em que ocorreu. O relato também provocou muitas manifestações de revolta pela atuação do segurança e solidariedade à jovem, que completa 25 anos em março. Um amigo da moça, que a acompanhava na festa, contou ao Correio que muitas pessoas no evento estavam bastante inconformadas e indignadas com a estrutura. “O serviço foi péssimo em todos os aspectos. Muitos carros foram arrombados e assaltados. Algumas pessoas solicitaram ajuda para os seguranças e eles diziam que não podiam fazer nada”, contou. “A gente nunca pensa que isso vai acontecer com alguém próximo”, lamentou o episódio envolvendo a amiga.
O perfil da estudante a descreve como uma ativista de causas contra a violência à mulher. Na última postagem, antes da denúncia da festa de réveillon, ela repudia o projeto de lei, em tramitação na Câmara dos Deputados, que veda o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) a vítimas de violência sexual, de autoria do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ao contar o próprio drama, ela diz que decidiu se expor para dar exemplo e evitar que as mulheres se calem diante de violências sexuais.
Para especialistas, a denúncia é fundamental para influenciar outras mulheres a não se calarem. A PHD em comunicação e cultura e especialista em feminismo da Universidade de Brasília (UnB), Tânia Montoro, explica que as redes sociais são importantes aliadas das mulheres na hora de denunciar. “O estupro é complicado para a saúde mental e para a autoestima das mulheres. Quando denuncia, a mulher sai da cultura do silêncio e influencia outros a fazerem o mesmo. Torna-se, na verdade, um protagonista da paz”. A especialista salienta que a denunciante pode não ser a primeira nem a última vítima de ações violentas cometidas por profissionais do setor de segurança. “Muitos deles não têm curso ou sequer qualificação profissional para trabalhar com jovens”, afirma.