temer-dilmaMichel Temer aposenta a partir desta quinta o substantivo vice do cargo que ocupou nos últimos cinco anos para se apresentar como presidente do Brasil aos olhos do mundo. Ele sucede interinamente a presidenta Dilma Rousseff, sua parceira no poder desde janeiro de 2011, e assume o cargo de fato se o Senado aprovar a destituição definitiva nos próximos 180 dias.

O descendente de libaneses de 75 anos, criado em Tietê, no interior paulista, eleito deputado federal por primeira vez em 1994, encara de vez um país devastado por uma dolorosa crise política e econômica que começou a se desenhar assim que a presidenta foi eleita em outubro de 2014, e culminou com o seu impeachment depois de arrastados 496 dias do segundo mandato. Agora, Temer aposta que terá dois anos e meio pela frente para dissipar o pessimismo e o clima beligerante que dividiu o Brasil nos últimos dois anos, insuflada pela disputa política, e pelas denúncias de corrupção turbinadas pela Operação Lava Jato.

Nesta quarta, o peemedebista acompanhou a votação do Senado ao lado de políticos no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice, enquanto seus emissários mais próximos aparavam arestas com aliados para fechar novos nomes da equipe que assume o novo Governo Temer. A partir desta quinta, ele começa a despachar do Palácio do Planalto, de onde Dilma tirou seus últimos pertences pessoais nesta quarta. Como presidente interino, deve fazer um pronunciamento público no meio da tarde com um discurso conciliador, o primeiro de muitos para pavimentar sua chegada ao poder.

A realidade, porém, vai se contrapor às suas boas intenções. Temer assume a presidência com o peso de não ter passado diretamente pelas urnas, sofrendo a antipatia dos eleitores contrários ao impeachment que o chamam de golpista, e a desconfiança dos que estavam a favor da queda da presidenta. Sua popularidade é baixíssima – só 8% dos entrevistados em uma pesquisa Ibope feita há algumas semanas disseram esperar que Temer resolva a crise. Sua equipe encara com naturalidade essa baixa expectativa, pois o vice que se torna presidente ganha margem para surpreender positivamente. “Pretendo apresentar, logo no início, algo que seja útil e palatável para o país”, afirmou ele na breve entrevista concedida no último dia 3 à Globo News.

Tem um caminho longo pela frente. Encontrará o PT como oposição disposto a travar uma batalha intensa com o novo Governo depois da perder etapa crucial da queda de braço do impeachment. “Nós não vamos reconhecer Temer como presidente da República. Ele é golpista e encontrará protestos por onde andar pelo país”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) já na madrugada desta quinta, quando discursou da tribuna do Senado para anunciar que votaria contra a saída da presidenta.

No mesmo dia em que Temer discursa como presidente, manifestantes tomarão as ruas contra as perdas de direitos que sua política de austeridade deve impor. Ele garante que não mexerá em direitos sociais. Mas com o desemprego crescente, que deve cortar mais de 2 milhões de postos de trabalho este ano, trabalhadores se organizam para pressioná-lo.

Do El País