Fotos: Max Rodrigues/Farol de Notícias
Publicado às 14h10 desta segunda-feira (21)
Mesmo sem os festejos apreciados pelos nordestinos, a semana de São João já começou e com ela a certeza que esse é mais um ano atípico com tantas vidas interrompidas, a dor pelos que se foram e as memórias que guardamos nesse período tão simbólico para o sertanejo. A fim de resgatar essas memórias, a reportagem do Farol conversou com Maria do Carmo Carvalho Nascimento (Dona Carminha), 84 anos, que compartilhou suas vivências de forrozeira no São João da Fazenda São Miguel e do Batukão.
Dona Carminha é empreendedora há 40 anos, tem um comércio na Rua Enock Ignácio Oliveira, onde vendia bebidas, porém atualmente vende apenas calçados, Serra da Sorte e doces. Decidiu entrar no ramo após voltar para Serra Talhada depois de 19 anos morando em Mirandiba, cidade de seu pai e onde se casou. Ela iniciou suas memórias juninas relembrando como era o São João de Mirandiba e logo chegou nas festas de Serra Talhada.
”Lembro muito das festas de Mirandiba, as festas juninas de lá eram topadas, começavam dia 13, Dia de Santo Antônio, e ia até dia 29, São Pedro. Todo dia tinha quadrilha, festa, muita comida de milho e muito forró, eu gostava mesmo era do forró. Quando eu voltei para cá, as festas eram muito boas também porque tinha as do São Miguel, as do Batukão e da Praça, porque, na época, os prefeitos faziam festa de rua, mas bom mesmo era ao São João do São Miguel, era topado. Assissão ia tocar lá, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Santana e outros conjuntos de foram também vinham”, disse Dona Carminha continuando:
”A gente ia para o São Miguel de pau de arara, antes de ter carro, tudo cantando: ”Que forrozinho bom parece cair do céu, lá em Serra Talhada na Fazenda São Miguel.” Nós chegávamos lá e já entrava dançando na maior animação, era bom demais. Eu só não gostava muito do São João da Estação do Forró porque tinha muita bebedeira, só fui uma vez no tempo que João Henrique puxava a quadrilha de lá, meu forró era no São Miguel. Hoje, aqui nessa época é um cemitério e o que mais sinto falta é das festas do São Miguel e do Batukão porque todo mundo tinha respeito e tinha amor.”
O COMPANHEIRO
O esposo de Dona Carminha faleceu aos 52 anos e também era um grande apreciador dos festejos juninos. Segundo a esposa, onde tinha forró ele estava. Após ficar viúva, ela ia para as festas com os filhos, porém quando não podiam a acompanhar, ia sozinha para o Batukão, era conhecida e respeitada por todos, dançava a noite toda sozinha, gosta muito de canjica e pamonha, porém revelou que sequer lembrava de comer porque gosta mais do forró.
”Eu era forrozeira de não perder nada, gostava muito de dançar quadrilha. Na minha rua, todo ano a gente fazia quadrilha e era topada, quem tocava na nossa quadrilha era Fátima, que hoje trabalha na Cultura, era a maior festa, tinha palanque e tudo. Eu tanto dançava quando organizava, não podia ver um forró e meus filhos também, eu só tenho um que não dança os outros todos são forrozeiros, hoje não tem mais nada disso, tudo acabou”, lamentou.
FUTEBOL
Além de ser forrozeira e grande apreciadora dos festejos juninos, Dona Carminha é apaixonada pelo futebol brasileiro. É torcedora do Sport e do Serra Talhada das que ia a campo assistir aos jogos com toda aquela vibração e alegria de um torcedor nato, porém se distanciou dos estádios da capital após começarem a onda de violência das torcidas, porém continua sendo admiradora do futebol.
”O futebol para mim era tudo também, mas agora acabou tudo. Ainda hoje eu gosto, eu tanto assitia no campo quanto dançava, gritava e fazia uma torcida animada. Eu ia para Recife assistir ao jogo do Sport e também assistia os do Serrano aqui no Pereirão. Depois que começou as agressões nos campos eu não fui mais para Recife, mas aqui eu ia, podia o pau quebrar que eu ia. Tenho 8 ou 10 camisas do Sport e do Serrano, depois foi o Serra, tenho retrato até com uns jogadores da Seleção Brasileira que tirei num jogo em Recife, eu era apaixonada por Jairzinho e tirei retrato com ele”, relembra.
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