Do Diario de Pernambuco

Foto: AFP/MANDEL NGAN

Segunda Guerra Mundial. Entre 1942 e 1945, período em que os Estados Unidos participaram do conflito: 405.399 norte-americanos morreram em combate. Pandemia da Covid-19: em menos de um ano, o coronavírus matou 408.382 cidadãos dos EUA. Para lutar contra o inimigo invisível, o presidente Joe Biden assinou um pacote de 10 decretos executivos e apresentou uma Estratégia Nacional para Resposta à Covid-19 e Preparação contra a Pandemia, um documento de 200 páginas. “Nossa estratégia nacional é abrangente, baseada na ciência, não na política. É baseada na verdade, não na negação, e é detalhada”, declarou o democrata, acompanhado da vice, Kamala Harris, e de Anthony Fauci, imunologista e conselheiro de Biden para o combate ao Sars-CoV-2. “Este é um empreendimento em tempo de guerra”, acrescentou o presidente. A partir de agora, além de mostrarem o diagnóstico negativo para Covid-19 antes do embarque, os viajantes com destino aos EUA serão obrigados a cumprir uma quarentena assim que chegarem ao país.

“No ano passado, não pudemos contar com o governo federal com o foco e a urgência de que necessitávamos. Vimos o trágico custo desse fracasso”, disse Biden, em referência ao antecessor, o republicano Donald Trump. O novo chefe de Estado destacou que os cientistas trabalharão livres de “qualquer interferência política e podem tomar suas decisões baseadas estritamente na ciência”. Ele pediu à população que utilize máscaras por um prazo de 100 dias, mas determinou a obrigatoriedade do acessório em trens, aviões, barcos e ônibus coletivos. Menos tenso do que durante o governo Trump, Fauci desabafou: “A ideia de que você pode chegar aqui e falar sobre o que sabe, o que é evidência e ciência, (…) é um sentimento um tanto libertador”.

Ao prometer sempre honrar a transparência e a verdade, Biden advertiu que as coisas “continuarão a piorar, antes de começarem a melhorar”. “Não entramos nessa confusão da noite para o dia, e vai levar meses para mudarmos as coisas. Mas, deixe-me ser claro: nós vamos superar isso”, afirmou. O presidente ordenou a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA) a montagem de 100 centros de vacinação comunitários dentro de um mês e tornou a se comprometer com a aplicação de 100 milhões de doses de imunizantes em 100 dias.

As agências federais poderão recorrer à chamada Lei de Produção de Defesa (DPA, pela sigla em inglês) para priorizar a intensificação da produção de máscaras, kits de testagem e insumos para a fabricação de vacinas. A lei confere ao presidente uma série de poderes para moldar os programas de preparação da defesa nacional e tomar medidas adequadas para aprimorar a base industrial doméstica. Uma das ordens executivas assinadas por Biden cria o Comitê de Testagem da Pandemia de Covid-19, o qual buscará expandir a capacidade de diagnosticar o Sars-Cov-2. Até o fechamento desta edição, os EUA contabilizavam 24.552.405 infectados pelo coronavírus.

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Robert Gallo, um dos descobridores do HIV (o vírus causador da Aids) e diretor do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland, disse ao Correio que o plano de Biden é “a decisão correta”. “A questão, agora, é como lançar e implementar essas iniciativas”, comentou. “O presidente Biden inverte o rumo da crise crescente nos Estados Unidos e no exterior, ao escutar aqueles que mais sabem sobre a saúde pública, além de tomar medidas mais firmes, a fim de mitigar a pandemia, dar exemplo e usar a máscara, e intensificar a vigilância, por meio de medidas preventivas. Um bom presidente, sozinho, não acabará com a crise. Ele precisa comprometer-se em avançar a ciência e implementar políticas de saúde pública sólidas”, defendeu. Gallo acredita que a humanidade precisa de uma abordagem global para mitigar a pandemia.

Obama

Ontem, o ex-presidente Barack Obama comemorou as primeiras ações de Biden no poder. “Este é um momento de ousadia, e o presidente já a está entregando. Ao retornar aos acordos climáticos de Paris no primeiro dia, ele declarou, em alto e bom som, que os EUA, mais uma vez, liderarão a luta contra as mudanças climáticas”, escreveu no Twitter. “Isso é apenas o começo.”

As sete metas

» Restaurar a confiança da opinião pública norte-americana;
» Montar uma campanha de vacinação contra a covid-19 segura, efetiva e ampla;
» Mitigar a propagação do coronavírus, por meio da ampliação do uso de máscaras, da realização de testes, dos tratamentos e dos dados
sobre a Covid-19;
» Expandir imediatamente o alívio de emergência e aplicar a Lei de Produção de Defesa;
» Reabrir, com segurança, escolas, negócios e viagens, protegendo os trabalhadores;
» Proteger aqueles que estão em maior risco e promover a equidade, inclusive em todas as linhas raciais, étnicas e rurais/urbanas;
» Restaurar a liderança dos EUA no âmbito global e criar uma melhor preparação para ameaças futuras.

As principais medidas

Vacinação

O objetivo de Biden é aplicar 100 milhões de doses da vacina, suficientes para cobrir 50 milhões de norte-americanos, nos primeiros 100 dias de governo.
O governo federal pretende aumentar o pessoal capacitado a aplicar a vacina.

Quarentena

Todos os passageiros que chegarem aos Estados Unidos deverão passar por uma quarentena ao chegarem ao país. Também serão obrigados a
fazer um teste antes de embarcarem no avião.

Máscaras

Passa a ser obrigatório o uso de máscaras em aeroportos e em meios de transporte, como trens, aviões, ônibus e barcos.

Lei de Produção de Defesa

As agências federais poderão usar a Lei de Produção de Defesa e outros poderes para colocar fim à escassez de itens necessários para a resposta à Covid-19, incluindo equipamentos de proteção individual para trabalhadores da saúde, equipamentos de laboratório e materiais para acelerar a fabricação de vacinas.

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Testagem

Fica criado o Comitê de Testagem da Pandemia de Covid-19, que terá o objetivo de aumentar o acesso aos testes de diagnóstico em escolas, locais de trabalho e comunidades carentes, por meio da expansão da força de trabalho em saúde pública.

Quais são as ações mais urgentes que o presidente Joe Biden deve tomar para combater a pandemia da Covid-19?

Não há uma ação mais importante do que outra. Coletivamente, nós precisamos de mais dagnósticos ativos e de rastreamento de contatos dos infectados, de uma quarentena mais convicente, de uma maior vigilância epidemiológica, de uma distribuição bem-sucedida da vacina e de drogas contra a Covid-19. Além disso, um foco simulâneo na ciência, capaz de ajudar a controlar a pandemia até que as vacinas e as terapias a mitiguem.

Como é possível ampliar a vacinação nos Estados Unidos?

A intensificação da vacinação é mais um fenômeno econômico e social, do qual não sou especialista. No entanto, posso dizer que os EUA precisam se esforçar mais e melhor na distribuição da vacina. Precisamos aprovar mais opções de vacina — há vários grupos no mundo com vacinas que podem fazer este trabalho.

Quando a pandemia deverá ser derrotada em seu país, na sua opinião?

Ninguém, no mundo, pode prever quando o vírus começará a ser derrotado. Não conhecemos a capacidade das vacinas e ainda não sabemos se alguma mutação pode escapar da vacina. Precisamos estar preparados a usar vacinas não específicas, como aquelas que aumentam a imunidade inata e fornecem proteção contra esses vírus, a fim de mitigar a crise. Além disso, os EUA, a Europa e a China necessitam se unir melhor para derrotar a pandemia e para estarem mais bem preparados.O governo do presidente americano recém-empossado, Joe Biden, propôs estender por cinco anos o tratado New START com a Rússia, o último pacto nuclear vigente entre os dois países. O tratado, que limitou a 1.550 o número de ogivas nucleares das duas potências, expira em 5 de fevereiro e não pôde ser renovado depois que as conversações estagnaram durante o governo de Donald Trump. “Os Estados Unidos pretendem buscar uma extensão por cinco anos do New START, como o tratado permite”, disse a jornalistas a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. “Esta extensão faz, inclusive, mais sentido quando a relação com a Rússia é tão adversa quanto neste momento”, acrescentou. Ela também disse que a nova chefe de Inteligência, Avril Haines, abrirá uma investigação sobre o aparente envenenamento do opositor ao Kremlin Alexei Navalny, sobre a suposta ingerência russa nas eleições e sobre se Moscou esteve por trás do ciberataque maciço contra a empresa americana SolarWinds.

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Saída de aliança global antiaborto

Uma decisão tomada pelo governo Joe Biden marca o distanciamento em relação à agenda política do presidente Jair Bolsonaro. “O presidente Biden revogará a ‘política da Cidade do México’ nos próximos dias, como parte de um compromisso mais amplo com a proteção da saúde da mulher e com o avanço na igualdade de gênero nos EUA e ao redor do mundo”, declarou Anthony Fauci, imunologista e conselheiro de Biden para o combate à covid-19. A referida ‘política da Cidade do México’, também conhecida como “regra da mordaça global”, proíbe organizações não governamentais (ONGs) de realizar ou promover abortos como condição para receber ajuda de planejamento familiar dos EUA.

“Felizmente, a sanidade está retornando à Presidência dos Estados Unidos”, comemorou o historiador político e brasilianista James Green, professor da Brown University (em Rhode Island) e discípulo de Thomas Skidmore. “Prevejo que, apesar das tentativas do embaixador brasileiro nos Estados Unidos de fingir que as políticas de Bolsonaro são compatíveis com as de Biden, creio que as pessoas da Casa Branca sabem quem é Bolsonaro. Apesar de Biden e de a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, serem muito religiosos, eles apoiam o direito das mulheres de exercerem controle sobre seus corpos, incluindo o direito ao aborto. Sobre este e outros assuntos, Biden estará em conflito com as políticas e as posições do governo Bolsonaro”, disse ao Correio.

Imigração

Em outro tema ligado aos direitos humanos, Biden firmou um decreto executivo, na última quarta-feira, por meio do qual ordenou a interrupção de quase todas as deportações de imigrantes ilegais em um prazo de 100 dias. O democrata também freou a construção do muro com o México, revogou a proibição de entrada nos EUA de cidadãos de países muçulmanos e aumentou a proteção aos chamados “Dreamers” — filhos de imigrantes ilegais que chegaram aos Estados Unidos quando eram crianças. (RC)

FBI prende filho de brasileiros

O FBI (polícia federal dos Estaods Unidos) prendeu, ontem, Samuel Camargo, filho de brasileiros que mora na Flórida, depois que ele mesmo anunciou pela internet ter participado da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro. Durante o ataque à sede do Legislativo, cinco pessoas morreram. O ato foi incitado pelo então presidente Donald Trump, que corre o risco de perder os direitos políticos. Camargo responderá a várias acusações, como tentar impedir um policial de exercer seus deveres durante um tumulto e por desordem civil, ao invadir um prédio de acesso restrito. Camargo nasceu nos Estados Unidos, mas os pais dele são naturais de Sabinópolis (MG).