Da Revista Fórum

Em entrevista à BBC News, o ex-presidente e atual senador Fernando Collor (PROS-AL) condenou a condução do governo de Jair Bolsonaro. Segundo ele, o presidente atua de forma ideologizada, acirrando os ânimos e contribuindo para o “abismo” na sociedade brasileira. Ele considera que Bolsonaro talvez não saiba o que está fazendo, mas evita criticar a possível nomeação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos EUA e a indicação de Augusto Aras para a PGR. Ele ainda comenta sobre a Vaza Jato e a eleição de 89.

“Talvez porque ele não tenha noção do que está fazendo. Se ele tiver noção exata do que está fazendo, das consequências em se continuando nessa linha, o que disso pode advir, eu acho que ele mudaria de postura e seu entendimento sobre o momento que o Brasil está vivendo”, declarou o senador ao ser questionado sobre o acirramento, que, segundo Collor, tem sido promovido por Bolsonaro.

Collor ainda considera que “há ausência de um projeto de país” no governo Bolsonaro, defende seu mandato e não gosta de ser comparado com o atual presidente. “Eu sei que, para mim, tudo isso é inédito. Tudo que eu fiz era inédito. Se alguém está copiando, é ele. Então, se há semelhanças, é ele que está buscando essas semelhanças, é ele que está gerando essas semelhanças. Não eu”, declarou.

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Ele evita, no entanto, fazer críticas às indicações de Aras e Eduardo Bolsonaro. “A decisão do presidente da República constitucionalmente cabe a ele, de indicar quem lhe aprouver para a posição. Mas acho que é uma decisão que deveria ter sido pensada com mais cuidado, porque as credenciais de ser uma pessoa que transita bem na órbita familiar do presidente norte-americano (Donald Trump) talvez não sejam suficientes para a posição de embaixador”, disse o ex-presidente sobre o aspirante a embaixador, evitando revelar se votará contra ou a favor.

Sobre Aras, Collor avalia que “ele escolher fora da lista tríplice está perfeitamente de acordo com o que diz a Constituição. A lista tríplice foi uma criação do governo Lula, atendendo ao corporativismo do Ministério Público, que é muito forte”. “Eu não acredito que tenha chegado a ocorrer em uma conversa entre os dois. Pelo menos isso não passa pela minha cabeça, uma conversa como essa. O Ministério Público é independente, isso está na Constituição”, completa.

Vaza Jato e Lula

O senador ainda criticou a Lava Jato em face das reportagens da Vaza Jato. Segundo ele, “esses diálogos que o The Intercept está colocando à luz do dia são conversas absolutamente não republicanas e reprováveis, no momento em que um juiz combina com uma das partes”.

Collor ainda disse que se arrepende dos ataques feitos contra Lula durante a campanha de 1989 e afirma ter votado no ex-presidente nas duas oportunidades em que ele disputou contra Fernando Henrique Cardoso. “Eu não via em Fernando Henrique, e isso pesa muito para mim na avaliação, que é uma consciência social, uma preocupação social. E isso eu percebia que o Lula tinha e tem”, disse.