Botafogo x Fluminense: brigando pelo topo do Brasileiro

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Por Folha Pe

 

Tempo é resultado ou resultado é tempo? Na sexta rodada do Campeonato Brasileiro, os três times que lideram a tabela — BotafogoPalmeiras Fluminense — estão com o mesmo técnico há mais de um ano.

O desempenho linear dos clubes no início do campeonato mostra que o trabalho feito pelos treinadores, a longo prazo, está dando resultado. Porém, nem sempre foi assim. Com campanhas consistentes, mas também com altos e baixos, Luís CastroAbel Ferreira e Fernando Diniz conquistaram o que muitos não têm: tempo para alinhar o time à sua tática de jogo.

O sucesso de um técnico costuma ser medido pelos resultados nas competições. Mais vitórias refletem em uma torcida satisfeita, dirigentes felizes e, por consequência, mais tempo para que o treinador coloque em prática seu estilo de jogo. No entanto, um desempenho mediano ou uma série de derrotas podem significar o fim da trajetória no clube. Na prática, esse cenário se contrapõe, já que, para que a comissão forme uma equipe capaz de ganhar, ela precisa de tempo e, para conquistar esse tempo, não é permitido falhar.

Tricampeão do Brasileiro pelo São Paulo como técnico, em 2006, 2007 e 2008, e atual coordenador do clube, Muricy Ramalho vê o cenário vivido pelos três líderes, e por ele mesmo no passado, como o ideal. Para trazer os títulos almejados, é necessário tempo e, apesar dos possíveis tropeços iniciais, um projeto contínuo tende a fazer efeito.

— O ideal é o treinador ter tempo para conhecer seus jogadores e desenvolver seu pensamento tático. É impossível fazer isso sem tempo. O problema é que a única forma de permanecer em um time e ter esse tempo é ganhando, então não dá para errar. Infelizmente é assim — lamentou o ex-treinador.

A conquista do tricampeonato de Muricy pelo tricolor paulista, por exemplo, veio após um pedido de demissão do técnico diante da eliminação na Libertadores de 2007. Na ocasião, o presidente do clube, Juvenal Juvêncio, não aceitou sua saída e insistiu que continuasse no comando do time.

— Os clubes precisam contratar treinadores para desenvolver. Tive a felicidade de encontrar dirigentes que acreditaram no meu trabalho, mesmo em momentos ruins. A gente joga tanto que não dá para vencer tudo. Uma eliminação ou derrota cria um clima ruim e, se a diretoria acredita no trabalho do técnico e aguenta a pressão da derrota, sem interromper o trabalho da equipe, os resultados são ainda melhores a longo prazo — comentou Muricy.

Os altos e baixos dos líderes

No Botafogo, atual líder do Campeonato Brasileiro, Luís Castro sofreu forte pressão pouco antes do início da competição. Após o fracasso no Cariocão deste ano, o técnico chegou ao Brasileirão acompanhado de fortes críticas vindas da torcida, que chegou a desejar a saída do português. Na época, o treinador tinha apenas 51% de aproveitamento em 58 jogos à frente do time. Apesar do cenário desfavorável, ele foi mantido.

No Brasileiro, o jogo virou. À frente do time há um ano e dois meses, Castro chega à sétima rodada da competição com 83% de aproveitamento, acumulando cinco vitórias e uma derrota. Com o modelo tático do técnico, o time mostra também um bom desempenho na Copa Sul-Americana, em segundo lugar no grupo.

No início de campeonato, a constância e a construção tática fazem ainda mais diferença. É o que mostra o time do Fluminense, adversário do líder alvinegro neste sábado. A estratégia de Fernando Diniz aparece de forma cada vez mais clara quando o tricolor está em campo. Ocupando o terceiro lugar na tabela, com 13 pontos, o Flu inicia o Brasileirão com um placar tranquilo. Além de grandes possibilidades na Libertadores, com a primeira colocação no grupo.

Diniz acaba de completar um ano no clube e mostra que, com o tempo, conseguiu adaptar o time à sua filosofia, encantando a torcida com seu estilo de jogo. Mas o treinador já passou por maus momentos. Em 2019, no próprio Fluminense, a passagem de Diniz durou apenas sete meses. Após deixar o tricolor na 18ª colocação do Campeonato Brasileiro, com três vitórias, três empates e nove derrotas, o treinador foi demitido.

Na tabela, entre o tricolor e o alvinegro está Abel Ferreira, o vitorioso técnico do Palmeiras. À frente do time há quase três anos, o português soma oito títulos pelo clube, dentre eles duas Libertadores e um Campeonato Brasileiro. Com nenhuma derrota até agora no Brasileirão, o técnico está em segundo lugar com 14 pontos e o maior saldo de gols da tabela.

O tempo de permanência de Abel no alviverde é incomum. Ao renovar seu contrato, o treinador chegará a quatro anos no clube e, caso cumpra o novo vínculo até o fim, em dezembro de 2024, ele se tornará o técnico mais longevo da história do Palmeiras.

Um hábito no futebol nacional

O troca-troca de técnicos é algo comum no futebol brasileiro. Desde o início do Brasileirão, em abril, quatro times já mudaram sua comissão técnica. Coritiba, São Paulo, Cuiabá e Corinthians contrataram novos treinadores, após se depararem com desempenhos pouco satisfatórios. Outros três clubes —Cruzeiro, Flamengo e Goiás — fizeram mudanças pouco antes do início do campeonato.

Coincidentemente, nenhum dos quatro clubes que aparecem na zona de rebaixamento na sexta rodada estão com técnicos há mais de um ano. A maioria deles, na verdade, fez novas contratações ainda em 2023.