Até quarta-feira ( 17), o número de inscritos no programa Mais Médicos do governo federal, que pretende levar profissionais para cidades do interior do País, já tinha superado o número de vagas oferecidas, que é de 10,4 mil, chegando a 11,7 mil candidatos. O número acima do esperado pelo Ministério da Saúde levou o ministro Alexandre Padilha a determinar que a Ouvidoria do órgão telefone a todos os candidatos que já têm algum outro tipo de vínculo empregatício para checar o interesse.

Segundo Padilha, a suspeita surgiu há uma semana, quando o ministério começou a receber denúncias de que médicos estariam se organizando pelas redes sociais para fazer inscrições mesmo sem interesse e depois desistirem do posto, apenas para atrapalhar o processo. O ministro pediu que a Polícia Federal acompanhe a movimentação. A PF, no entanto, afirma que o pedido – que precisa ser feito do Ministério da Saúde para o Ministério da Justiça – ainda não chegou. Mas, como vários consultas foram feitas, os policiais estariam monitorando as inscrições.

“Desde segunda-feira, o Ministério da Saúde, por meio da sua Ouvidoria, está ligando para médicos que se pré-inscreveram e já têm outros vínculos, como residência médica, para perguntar se realmente querem participar do programa”, explicou Padilha. “Estamos estimulando os médicos brasileiros a participar do programa, mas não queremos ninguém que esteja fazendo qualquer tipo de sabotagem para atrasar um programa tão sério que visa a oferecer médicos para a população brasileira.”

Do total de profissionais que deram início ao cadastro, 9.366 se formaram no Brasil e 2.335 no exterior, 10.786 são de nacionalidade brasileira e 915, estrangeiros. Pelo Mais Médicos o ministério pretende pagar salários de R$ 10 mil. E colocá-los em cidades que hoje têm vagas sobrando e não conseguem contratar ninguém.

As inscrições para o Mais Médicos seguem abertas até 25 de julho e podem ser feitas pelo site do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br). As prioridades são cidades do interior – hoje 700 municípios não têm nenhum médico – e as periferias das grandes cidades, onde há infraestrutura mas não há profissionais.

A prioridade é para profissionais brasileiros interessados no programa, mas o governo prevê a contratação de estrangeiros para suprir as vagas não preenchidas por médicos nacionais, sem a necessidade de validação do diploma. Os estrangeiros fariam um curso simplificado de adaptação para que pudessem trabalhar apenas nos locais indicados pelo governo brasileiro.

Resistência. O programa enfrenta enorme resistência da classe médica, contrária especialmente à contratação de profissionais estrangeiros. Apesar de o Brasil ter apenas 1,8 médicos para cada mil habitantes – e a maioria concentrados nas Regiões Sul e Sudeste do País -, alega-se que o problema da saúde no Brasil é de infraestrutura e não de falta de profissionais especializados.

Suspeita-se que a estratégia dos médicos seria atrasar a “importação”. O Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio da assessoria, afirmou desconhecer qualquer movimentação contra o Mais Médicos. Afirmou ainda que não partiu do CFM nenhum comando para que inscrições fossem feitas em massa para posterior descredenciamento.

Do Estadão