Por G1
O Brasil registrava ao menos 30 mortes de profissionais de enfermagem causadas pela Covid-19 até esta quarta-feira (15), de acordo com balanço do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). O levantamento retrata o impacto das infecções do novo coronavírus entre enfermeiros, técnicos e assistentes.
Outros 4 mil profissionais estão afastados pela doença, sendo 552 com diagnóstico confirmado e mais de 3,5 mil em investigação. Ao todo, já são mais de 4,8 mil denúncias por falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para trabalhar, de acordo com o Cofen (Cofen).
Os números chamam a atenção pela escalada de casos reportados por enfermeiros responsáveis ou coordenadores das áreas de atendimento. Em 5 de abril, eram 230 casos suspeitos ou confirmados. Dez dias depois, o número saltou para 4.089 – quase 18 vezes mais.
“Os dados refletem o avanço da pandemia e têm nos preocupado muito. O maior problema hoje na enfermagem é a falta de equipamento de proteção individual (EPI). Há denúncias de reúso de máscara N95 e outras que são feitas com material duvidoso. Se a pandemia avança e não temos EPI, a tendência é ter um maior número de profissionais contaminados e mais afastamentos”, afirma Gilney Guerra, conselheiro federal.
Denúncias de falta de EPIs
Segundo Guerra, os profissionais de enfermagem estão na linha de frente no atendimento aos pacientes com coronavírus. Ao todo, há 2.263.132 profissionais de enfermagem registrados nos conselhos da profissão em todo o país, segundo o Cofen.
Guerra cita que, em tempos de pandemia, segue-se uma resolução da Anvisa que determina um técnico de enfermagem para cada dois leitos de UTI e um enfermeiro para cada 10 leitos. São eles que monitoram os equipamentos de ventilação mecânica para ajudar os casos graves da doença e administram os medicamentos.
Nem sempre, de acordo com Guerra, esses profissionais fazem o trabalho com a segurança necessária. De 13 de março a 16 de abril, o Cofen registrou 4.806 denúncias de falta de equipamentos de proteção individual, proibição do uso do material existente na instituição, pedidos para que os profissionais adquiram seus próprios materiais de segurança e também para que reutilizem materiais descartáveis.
“Fala-se muito que os profissionais de saúde são heróis, mas é preciso lembrar que o herói adoece, precisa de EPI para trabalhar, e precisa ser respeitado nas suas limitações”, afirma Guerra.
De acordo com o Ministério da Saúde, o problema está no fornecimento dos produtos. Cerca de 90% dos materiais são produzidos na China, que encerrou a produção devido à pandemia e, agora, os países enfrentam uma disputa entre si na compra dos materiais.
Necessidade de contratação emergencial
O conselheiro federal de enfermagem alerta que há profissionais de grupo de risco trabalhando na linha de frente de combate ao Covid-19. De acordo com os dados do Cofen, entre os profissionais afastados por suspeita ou confirmação do novo coronavírus, 38% têm entre 31 e 40 anos; 23% têm entre 41 e 50 anos; 7,95% têm entre 51 e 60 anos e 1% é acima de 60.
“Entendemos que estamos em uma pandemia, mas é preciso haver uma contratação emergencial e remanejamento desta força de trabalho. Colocar um enfermeiro diabético, hipertenso, ou com mais de 60 para atuar não é correto. Temos um registro de 9% de desemprego na área, estes profissionais precisam ser chamados porque, quando um enfermeiro se contamina, ele precisa ser afastado por 15 dias”, alerta.
A importância do trabalho dos enfermeiros foi lembrada pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson no último fim de semana. Ao receber alta do hospital onde esteve internado por Covid-19, Johnson citou o nome de vários enfermeiros e fez um agradecimento emocionado a dois, em especial, que estiveram com ele nos momentos mais críticos da doença.
“A razão para o meu corpo voltar a ter oxigênio foi por eles estarem a todos os segundos da noite ao meu lado, me olhando, eles estavam pensando como agir e cuidando de mim, fazendo as intervenções que eu precisava”, afirmou.