Do Diario de PE

Por ano, 81 mil pessoas morrem de câncer de pulmão na América Latina e no Caribe. O cenário parece ainda mais desafiador quando se considera que os países da região têm dificuldades de promover o acesso a diagnósticos e terapias – seja por problemas logísticos ou financeiros – e ainda não dispõede centros robustos de pesquisa sobre a doença. Esse foi o panorama regional apresentado no Seminário de Mídia sobre Câncer de Pulmão, promovido pela farmacêutica Pfizer em Bogotá, capital da Colômbia.

Um dos palestrantes do evento foi o criador da Fundação Argentina de Pacientes de Câncer de Pulmão (FPCP), Peter Czanyo. As dificuldades que se encontram na rede pública brasileira, como a demora para marcar consultas e exames e para obter medicações, são as mesmas vistas no país portenho e no resto da América Latina. “Toda a região é semelhante nesse ponto. Na parte privada não há dificuldades. O problema começa quando olhamos para o sistema público, em que tudo sempre demora”, comenta.

“Hoje, 35% da população argentina estão pobres. O nosso sistema de saúde até custeia medicações, que nem sempre são as melhores ou de última geração. E para garantir ao paciente acesso a isso, tema burocracia. Elá se vão dois ou três meses para conseguir o remédio mais moderno. E uma coisa

que um paciente não tem é tempo para esperar”, acrescenta. “O problema na região é complexo e amplo para se discutir. Falta conscientização de nossos políticos, falta dinheiro, falta educação, porque para fazer prevenção é preciso educar”, pontua Czanyo.

LIMITAÇÕES

“Testes moleculares hoje são feitos apenas em instituições privadas”, exemplifica o oncologista Claudio Martin, chefe de oncologia torácica do Instituto Alexander Fleming, que fica em Buenos Aires, na Argentina. Comparado a outros países latino-americanos, oBrasil conta com bom acesso graças ao Sistema Único de Saúde (SUS), projeto que não é repetido à risca em outras localidades. Mas se sabe que a demanda de pacientes é alta para o sistema suportar. São comuns, em todo o país, filas longas para marcação de consultas, por exemplo.

EXAMES MODERNOS DEVEM SE DISSEMINAR

Apesar do quadro, Martin faz um prognóstico positivo. “É inevitável que, com o tempo, as formas modernas de exames se popularizem”, aponta. Ele materializa a visão com o painel NGS, exame que sequencia genes e mutações relacionados a determinado tipo de câncer: “Ele deve se transformar em padrão no futuro, porque com ele você faz um maior número de testes com o menor número de material, como tecido”. Há também a biópsia líquida, que é bem menos invasiva que a original. Nela, as mutações são procuradas em amostras de sangue do paciente. “Ela ainda é um conceito. E só dá para procurar um tipo de mutação, como a do gene EGFR”, pondera.

É mais fácil para uma empresa farmacêutica fazer testes de medicações nos Estados Unidos ou na Europa do que na América Latina. O motivo é simples: nessas regiões já existem laboratórios e centros de pesquisas robustos, de acordo com Luis Alberto Suarez, diretor médico regional da Pfizer. “A região corresponde a 5% de toda a pesquisa feita no mundo”, diz. “No entanto, o Brasil tem feito grandes esforços para o progresso das pesquisas de remédios para câncer. Antigamente era mais complicado, mas hoje há uma colaboração maior tanto da Anvisa quanto dos pesquisadores brasileiros, que são muito bons. E o país vem se tornando mais competitivo nesse ponto ”, salienta.

PARCERIAS

No caso específico da Pfizer, alguns hospitais públicos e privados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Bahia são colaboradores de pesquisas – como os paulistas Sírio-Libanês e o AC Camargo. No entanto, é preciso contemplar mais regiões com centros de pesquisas. “Desde que haja grande demanda, por causa do custo financeiro e humano, além de logística. O Norte eo Nordeste são locais que deveriam ter centros assim”, pondera Suarez.