Do G1

Um grupo de policiais realizou nesta quinta-feira (23) buscas na residência da senadora e ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner (2007-2015), em Buenos Aires.

A operação começou na presença do juiz Claudio Bonadio, que ordenou a busca em três residências de Kirchner no caso que investiga propinas milionárias em troca de contratos de obras públicas.

A autorização das buscas foi aprovada na noite desta quarta pelo Senado. A autorização teve o aval de todos os 67 senadores presentes na sessão, inclusive a própria Cristina Kirchner.

Não houve abstenções. O procedimento de busca e apreensão ainda não teve início em outras duas propriedade de Kirchner, uma em Río Gallegos e outra em El Calafate, no sul do país.

A operação aconteceu no exclusivo bairro de Recoleta, com várias patrulhas policiais e um cordão de isolamento no prédio da ex-presidente.

Segundo o jornal “La Nación”, o advogado de Cristina, Carlos Beraldi, disse que os policiais pediram, por ordem do juiz Bonadio, que ele se retirasse do apartamento poucos minutos depois do início dos procedimentos.

“Estamos diante de uma farsa. Vamos pedir a nulidade de todo o procedimento e vamos pedir o julgamento político do juiz. Bonadio não cumpre com o que disse o Senado. Começaram a filmar e a se comportar de maneira ilegal”, disse o advogado.

Pedidos de Kirchner

Em carta aos diferentes blocos do Senado, divulgada na terça-feira, Kirchner se declarou disposta a permitir a revista às suas residências, embora tenha pedido que proíbam a presença de câmeras durante o procedimento.

Também solicitou que estivessem presentes seus advogados e um senador durante os procedimentos.

Esses pedidos, especialmente o de impedir a divulgação de imagens, foi apoiado por vários congressistas com o argumento de resguardo da intimidade.

Investigação

A ex-presidente, da corrente de centro esquerda peronista e que sucedeu seu marido Néstor Kirchner no cargo em 2007, é a pessoa de mais alto escalão envolvida no chamado “Cadernos de propinas”, que investiga supostos subornos de importantes empresários entre 2005 e 2015 para obter contratos de obras públicas.

De acordo com os cálculos iniciais, a trama de subornos poderia implicar cerca de US$ 160 milhões.

A causa judicial começou há um mês baseada em anotações feitas por um ex-motorista do Ministério de Planejamento, Oscar Centeno, que supostamente fez percursos por Buenos Aires durante 10 anos levando e trazendo sacolas carregadas de milhões de dólares.

O apartamento de Kirchner em Buenos Aires, assim como a casa presidencial de Olivos e a Casa Rosada, sede do governo, aparecem nesses cadernos como pontos de entrega das sacolas.

O juiz busca pistas sobre onde poderia ter ficado o dinheiro, aparentemente sempre recebido em espécie.

As anotações do motorista logo se somaram às confissões de vários empresários detidos que decidiram ir à Justiça na condição de arrependido, assim como, recentemente, ex-funcionários do governo de Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner.

Além deste caso, Cristina Kirchner enfrenta outros cinco processos por suposto enriquecimento ilícito e por encobrimento de iranianos acusados pelo atentado à mutual judaica AMIA em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos.