Foto: Domingos Martins da Silva. 

Publicado às 06h38 deste sábado (5)

Por Joaquim Pereira da  Silva,  associado ao CEHM – Centro de Estudos de História Municipal, Sócio efetivo do IHO – Instituto Histórico de Olinda, Sócio correspondente do IHGP, Conselheiro do Cariri Cangaço e Sócio correspondente da ABLAC – Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço, filho de Serra Talhada e pequeno Industrial com formação em Ciência Contábeis.

O pai da historiografia, o serratalhadense, Luiz Lorena, no capítulo um, página 21 do seu livro Serra Talhada – 250 Anos de História – 150 Anos de Emancipação Política, diz: “[…] Princípio teve a fazenda Serra Talhada no século XVIII com Agostinho Nunes de Magalhães. Princípio teve Villa Bella com o Comendador Manoel Pereira da Silva”. A nós é atribuída a tarefa de contemplar o passado, conviver com o presente, programar o futuro, o crescimento, preservar a história, “e o lugar de memórias”, como diz a Professora Luma Holanda.

A última visita que fiz à Fazenda Belém foi em companhia dos historiadores do Instituto Arqueológico Histórico Geográfico Pernambucano – IAHGP, o professor pós-doutor Yony Sampaio; o secretário perpétuo Reinaldo Carneiro Leão; os jovens Igor Cardoso e Rafael; o Confrade do Centro de Estudos de História Municipal – CEHM; e do Instituto Histórico de Olinda – IHO, Erivelton França. 

In loco, com a devida autorização dos familiares do atual proprietário, o Sr. Domingos Martins da Silva, podemos ver quão sólida foi sua edificação. Na ocasião, passou um filme na minha mente do descaso das autoridades, dos governantes em não preservar a memória, a história de um povo; mais uma vez lembrei do nosso saudoso Luiz Lorena, que tanto se preocupou em preservar o centenário casarão.

Na obra supracitada, página 203 diz: “[…] autor desta crônica, que recentemente adquiriu a propriedade com o objetivo de restaurar a casa, pelo menos”. Ao adentrar nos umbrais da antiga moradia de um dos líderes de maior expressão do Pajeú, em seu tempo, recorda-me que foi ele que recebeu a mensagem denunciando os horrores da Pedra da Bonita. Foi dali que ele partiu com os irmãos para a luta contra os fanáticos da Pedra Bonita (Pedra do Reino em maio de 1838). 

Foi igualmente do Belém que saiu a caravana para assumir os destinos da Comarca de Pajeú de Flores (O Conservador Presidente da Província Antônio da Costa Pinto nomeou o seu sucessor Herculano Ferreira Pena, ao assumir, e determinou a posse imediata do então, Coronel da Guarda Nacional Manoel Pereira da Silva, que através das armas, e ao lado dos seus sempre aliados das famílias Magalhães, Campos e Nunes da Silva, assume a Delegacia, a Comarca e Câmara de Flores no dia 20 de novembro de 1848).

Após, resultou em conflito armado seguido do que se chamou “Guerra da Serra Negra” em Floresta (uma extensão da Revolução Praieira). Em março de 1849, Manoel Pereira pede reforço à Capital e recebe em Flores, para defesa, 100 praças do Corpo Policial, sob o comando do Cap. Manoel Martins Pereira.

O Liberal Tenente Coronel Nogueira Paz, que estava em Piancó-PB e planejava reaver o poder em Flores, toma conhecimento do reforço e juntos aos aliados das famílias Ferraz, Nogueira e Rodrigues Moraes se refugia na Serra Negra – Floresta. A rebelião continuou. O Presidente da Província, Honório Hermeto Leão, mandou para Flores numeroso reforço sob o comando do Capitão Rocha Brasil. No dia 11/12/1849, aconteceu a batalha final com a vitória dos Conservadores, conforme informes de Belarmino Souza Neto – Flores do Pajeú. 

Da fazenda Belém também saiu a instrução, e homens sob o comando de Simplício Pereira, em 1831/1832, no Crato-CE, combateram a chamada Rebelião Pinto Madeira (que era filiada à sociedade Colunas do Trono e do Altar). Do Belém, também houve ordem para perseguição e prisão dos adeptos da chamada Sedição de Exú, que foi um ajuntamento armado ligado ao movimento das Revoluções Liberais de 1842. No casarão, nasceu aquele que foi o primeiro Intendente (Prefeito) de Vila Bela e depois recebeu o único título Nobiliárquico do Pajeú, Andrelino Pereira da Silva – Barão do Pajeú; também surgia a popular Villa Bella, hoje, a pujante e próspera Serra Talhada.

Quando em 1851, Manoel Pereira da Silva envia a Recife, seu filho Joaquim Pereira da Silva Tintão – Major Tintão, para acompanhar a tramitação do projeto substitutivo que transitava na Assembleia Legislativa que fora aprovado e transformado na lei nº. 280 de 06 de março de 1851, que transferiu a Comarca, sede do município de Flores, para povoação de Serra Talhada, elevando-a à categoria de Vila, com denominação de Villa Bella; sancionada pelo Presidente da Província, Dr. José Idelfonso de Souza Ramos. 

O casarão da Fazenda Belém do Comandante Superior de Flores, Ingazeira, Vila Bela e Tacaratu – Coronel da Guarda Nacional, Comendador da Ordem Imperial do Rio de Janeiro e Cavaleiro da Ordem de Cristo, político Conservador, Manoel Pereira da Silva testemunhou todos esses marcos importantes da memória histórica de Serra talhada e do Sertão do Pajeú das Flores, e resiste em ruir como se pedisse socorro. 

Por esses e tantos outros momentos marcantes e importantes, rogamos aos poderes constituídos e órgãos de preservação do patrimônio histórico ligados ao município e ao estado, ações concretas em sua preservação. Se em todo caso, esse restauro não chegar via município ou estado, rogamos ao atual proprietário, Sr. Domingos, para juntos encontrarmos o meio de mantermos esse importante “Lugar de Memórias” serra-talhadense vivo e funcional. 

 

Foto: Domingos * Telha datada de 1820.

No Sertão de Alagoas,  a prefeitura do município de Água Branca adquiriu e está reformando o Sobrado da Baronesa. A chamada Piranhas Velha foi toda tombada em Mata Grande, a antiga Cadeia. Existem também patrimônios tombados nas cidades de Palmeiras dos Índios, Delmiro Gouveia e Entremontes. 

No estado da Paraíba foi tombado o Casarão da Fazenda Jacú onde morou Chico Pereira. Em Aparecida (PB), encontra-se tombado pelo IPHAN. O conjunto arquitetônico da fazenda Acauã pertenceu, entre outros, ao pai do escritor Ariano João Suassuna, em Pombal. O centro histórico é todo tombado, inclusive, o prédio da antiga Cadeia. 

Em Pernambuco, vários municípios já aprovaram suas leis de preservação do seu patrimônio, dois deles (Belém do São Francisco e Triunfo), com leis modernas descrevendo todos os imóveis. Enquanto isso, Serra Talhada anda na contramão da história e a realidade é que muito pouco nos resta a ser preservado; porém, temos preciosidades, não só o Casarão da fazenda Belém; relembrando uma Casa de Pedra que se não pertenceu ao fundador de Serra Talhada, Agostinho Nunes Magalhães, com certeza a um de seus filhos sim.

Há pouco tempo, mostrada aqui no Farol de Notícias, pelo incansável defensor da nossa história, o Professor Paulo César, esses imóveis tombados. Quando bem explorados, a exemplo da cidade de Piranhas – AL, alavancam o turismo, geram empregos e renda à população local; e nós em Serra Talhada, com uma história viva, forte, latente, ainda não despertamos para a preservação desses locais. Detalhe, em São José do Belmonte, a Associação da Pedra do Reino com a Cavalgada atrai turismo o ano inteiro para o município. Ainda é tempo de preservar.