Os documentos divulgados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos no fim do ano passado que revelam o pagamento de propina pela Odebrecht em 11 países, além do Brasil, colocou sob suspeita governos na América Latina e na África, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Das nações citadas, ao menos Peru, Argentina, Equador, Panamá e República Dominicana abriram investigações ou estão tomando medidas contra a empreiteira brasileira após pressão de entidades e opositores.

As suspeitas, em alguns países, estão relacionadas a ex-presidentes, como Cristina Kirchner (Argentina), Ollanta Humala (Peru) e Ricardo Martinelli (Panamá), mas atingem também governos atuais, como o de Danilo Medina (República Dominicana) e Rafael Correa (Equador).

No Panamá, onde o Ministério Público local a princípio se negou a colaborar com as autoridades brasileiras, o período em que a empreiteira admite ter pagado propina se refere ao governo do ex-presidente Ricardo Martinelli, que já era alvo de investigações no país acusado de receber suborno. Nos papéis do Departamento de Justiça, embora não mencione o nome de Martinelli, são citados pagamentos a familiares próximos a um governante panamenho.

Para o presidente atual, Juan Carlos Varela, o caso também vem causando saia-justa. No fim de 2016, sua administração proibiu a Odebrecht de firmar novos contratos no país.

Para entidades da sociedade civil, no entanto, a medida veio “tarde demais”. Só o governo de Varela deu contratos avaliados em US$ 2,5 bilhões à Odebrecht. A reação do MP também só ocorreu depois que começava a se formar uma aliança que incluía universidades e entidades como a Alianza Ciudadana Pro Justicia, que pedia a criação de uma comissão independente para investigar as obras da Odebrecht. Imediatamente, a Procuradoria anunciou que formaria um grupo especial para avaliar o caso.

Semana passada, o presidente da Assembleia Nacional do Panamá, Ruben de Leon, declarou que seria “mais prudente” que a Odebrecht deixasse o país. “A empresa deveria entregar ou rescindir os contratos com o Estado”, disse. O Partido Revolucionário Democrático, de oposição ao atual presidente, afirmou que não aceitará que as investigações sejam “seletivas”

A exemplo do que ocorreu no Brasil com a Operação Lava Jato, o chefe do Ministério Público do Peru, Pablo Sánchez Velarde, anunciou na semana passada a formação de uma força-tarefa para investigar a corrupção ligada à Odebrecht. Ele se encontrará com o colega brasileiro, Rodrigo Janot, na sexta-feira para acelerar a troca de informações e as apurações no país andino.

O MP peruano alega não saber, por ora, quais são as autoridades do país que se envolveram em corrupção, o que dependerá de tratativas diretas com a empreiteira e da cooperação com outros países. A Odebrecht fechou um acordo com o Peru, por meio do qual se comprometeu a colaborar com as investigações e a pagar adiantamento de US$ 9 milhões (R$ 29 milhões) pelos ganhos ilícitos que obteve. A empresa admitiu pagamentos de US$ 29 milhões em propinas entre 2005 e 2014. O período cobre os governos de Alejandro Toledo, Allan García e Ollanta Humala.

Ao falar do caso, o procurador Carlos Trigoso disse que o escândalo da Odebrecht no Peru é “sem precedentes”.

Do JC Online