Por G1

A pandemia do novo coronavírus traz à tona um eterno dilema para o governo israelense — a insubordinação dos ultraortodoxos e a sua ingerência cada vez mais frequente em assuntos de Estado. Sem respeitar as determinações do Ministério da Saúde para manter o distanciamento social, estes enclaves ultrarreligiosos passaram a ser o principal foco de disseminação da Covid-19 no país.

Os dados são estarrecedores: metade dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva de hospitais em Jerusalém vem dessas comunidades, que representam, contudo, apenas 10% da população.
Israel tem 4.200 casos confirmados e 15 mortos. O país foi um dos primeiros a decretar quarentena e, desde quarta-feira passada, está sob rigorosas medidas de restrições. Moradores que se afastam mais de 100 metros de casa estão sujeitos a multa de US$ 140 e até prisão.

Os ultraortodoxos, no entanto, se insurgiram e recusaram-se a cumprir as normas impostas pelo governo, a quem não reconhecem como autoridade. Seguem somente as diretrizes de líderes religiosos, participando de funerais, casamentos e cerimônias, em que aglomeração é questão de ordem.

Sinagogas e escolas religiosas permaneceram abertas, tornando a oração um vetor importante da disseminação do vírus. Há outros agravantes: são famílias numerosas que vivem confinadas em espaços pequenos e sem ventilação, praticamente desconectadas da internet e de mídias sociais.

Facções mais extremistas destes enclaves rejeitam a intervenção do Estado e, em diversas ocasiões desde o início do surto, entraram em confronto com a polícia por descumprir ordens.

O resultado é que o vírus se espalhou numa velocidade avassaladora nessas comunidades, em comparação aos índices verificados em cidades seculares. O número de infectados em Bnei Brak, por exemplo, cresceu oito vezes entre segunda-feira e quinta-feira passada. Em Tel Aviv apenas dobrou no mesmo período.

Enquanto o governo cogita impor as mesmas regras de quarentena aos ultraortodoxos, as autoridades religiosas finalmente se deram conta da gravidade exposta pela pandemia. Seu líder mais influente, o rabino Chaim Kanievsky emitiu, somente neste domingo (29), uma diretriz para que a comunidade obedeça às normas do governo no combate à pandemia de Covid-19.

A decisão chega atrasada e indica que, mais uma vez, o governo comandado por Benjamin Netanyahu se curvou à influência dos ultraortodoxos — um dos pilares de sustentação de seu governo.