Uma atitude simples e uma lição de cidadania. Eram 7h40 quando o motorista Willington Marques, 38, fazia sua primeira viagem na linha entre Rio Doce, em Olinda, e Cidade Universitária, no REcife. Um trajeto de 64 km eternizado por tantas histórias, de assaltos a inícios de namoros, e até registrado em documentário. Em frente ao Colégio Dom, em Olinda, Willington se deparou com uma situação de desrespeito infelizmente corriqueira, mas decidiu que a rotina não pode ser desrespeitosa. Um deficiente visual embarcou e nenhum dos passageiros que lotava o coletivo ofereceu seu assento. Sem hesitar, o motorista subiu a voz para que todos pudessem escutar e avisou: “Se ninguém der o lugar, ele vai sentar aqui e dirigir o ônibus”.
Questionado pelo condutor se sabia guiar, o passageiro prontamente respondeu que sim. Em segundos, um idoso cedeu sua cadeira. Dos 44 assentos do veículo, seis são preferenciais e em muitos casos não sobram vagas. “Eu não podia mandar uma pessoa sair da cadeira, pois usei o meu próprio lugar como exemplo. O resultado foi rápido, não fui grosso, somente fiz para distrair um pouco”, disse. Willington começou sua carreira como cobrador de ônibus e depois de 15 anos no batente assumiu o volante. “Foi um exemplo que já venho fazendo desde da minha época na catraca. Temos que tratar nossos clientes com respeito, é dessa maneira que somos capacitados na empresa”, completou o motorista, empregado da Mobibrasil.
Em poucas horas, o gesto se propagou pelas redes sociais graças ao professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Bruno Nogueira. Ele estava no ônibus e contou a história no Facebook, em postagem compartilhada 2,8 mil vezes até as 23h de ontem. “Foi hoje de manhã. Estava passando na catraca. Foi tudo bem rápido. Assim que ele terminou de falar, o senhor cego (era um homem grisalho, deveria ter mais de 55 anos) já tinha sentado”, disse o professor, acrescentando que o deficiente subiu no ônibus com ajuda, mas estava sozinho no coletivo.
Dissabores – Na Praça do Derby, o Diario conversou com três deficientes visuais sobre suas rotinas no transporte coletivo. Eles parabenizaram a atitude de Willington, mas lembraram que nem todos os funcionários e passageiros são atenciosos com eles. “Já sofri preconceito”, disse o auxiliar de radiologista, Francisco de Oliveira, 45 anos. “Certa vez fui barrado quando tentei descer na porta do meio. O ônibus estava lotado e ainda fui alvo de piadinhas de mau gosto dos passageiros”, completou.
“Parabenizo Willington, sem dúvidas, fez a diferença. Nós não costumamos ver essa gentileza no cotidiano”, acrescentou Darinho de Oliveira, 40. “As pessoas às vezes estão com raiva de alguma coisa e descontam no cidadão”, ponderou Jaciara Sena, 60.
Do Diario de Pernambuco