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Nesta segunda-feira (20), data na qual se comemora o dia da Consciência Negra no país, a questão do racismo ganha protagonismo com um combustível a mais: a recente polêmica envolvendo o jornalista William Waack, da Rede Globo, que ganhou proporções internacionais após ser gravado falando frases racistas durante gravações. O comportamento do jornalista, e as repercussões nas redes sociais, levantam a questão sobre o combate ao racismo, e quanto o país avançou, ou regrediu, nesse sentido.

O professor de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Júlio Cesar de Souza Tavares, lembrou que o fato é uma mostra de que o problema do racismo é estrutural, com uma solução ainda distante. “O racismo não vai acabar, pois ele é instrumentalizado pelo capitalismo. Esse sistema econômico favorece privilégios, ele promove a ascensão de certos grupos em detrimento de outros. Essa é uma questão fundamental. Não é à toa que, quanto mais elitizada a área, menos negros, como no nosso Judiciário.”

Júlio Cesar – também um ativista contra o racismo no país – comentou ainda a decisão da emissora, de afastar o jornalista. “Waack é uma figura respeitada, um porta-voz importante da própria direção da instituição. Demiti-lo, em vez de afastá-lo, seria uma postura muito radical.” Neste caso, a empresa teria adotado uma “postura conservadora”.

Julio Cesar acrescenta ainda que Waack seria “apenas um agente da vocação racista que existe no Brasil”. Para o professor, “ele apenas manifesta uma condição enraizada na cultura. Ninguém é racista individualmente”.

O cientista político e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Jorge da Silva, por sua vez, questiona a ideia de que o Brasil não seria um país racista. Ao comentar o episódio de William Waack, ele reflete: “Temos pessoas que narram a nação brasileira. Temos teóricos que sempre insistiram na ideia de que o Brasil é uma democracia racial. Isso criou um problema sério: essa concepção tenta nos fazer imaginar que o racismo é algo inexistente”.