Do RFI

 

A Coreia do Norte disparou um míssil balístico de alcance intermediário que sobrevoou o Japão nesta terça-feira (4). O governo japonês ativou rapidamente seu sistema de alerta e recomendou que a população procurasse refúgio. Nenhuma vítima ou danos foram registrados.

Com informações dos correspondentes da RFI em Tóquio, Frédéric Charles, em Seul, Nicolas Rocca, e da AFP

 

A última vez que Pyongyang disparou um míssil sobre o Japão foi em 2017, em meio ao aumento das tensões entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o então presidente dos Estados Unidos Donald Trump. O teste desta terça-feira é considerado o mais importante deste ano pela Coreia do Norte, que jamais foi tão ativa militarmente como nos últimos tempos.

Segundo o exército sul-coreano, trata-se de “um míssil balístico suspeito de alcance intermediário que foi lançado da área de Mupyong-ri, na província de Jagang, por volta das 7h23 (19h23 de segunda-feira em Brasília) e passou sobre o Japão, na direção leste”. No início deste ano, um projétil similar já havia sido lançado por Pyongyang, mas ele terminou sua trajetória no mar, entre o território japonês e a península coreana.

Em um comunicado posterior, as Forças Armadas da Coreia do Sul explicaram que o míssil percorreu 4.500 quilômetros a uma altitude de 970 quilômetros e atingiu uma velocidade 17 vezes superior à velocidade do som, sobrevoando o Japão antes de cair no oceano Pacífico. A rara trajetória assustou as autoridades japonesas, que enviaram uma mensagem às prefeituras de Hokkaido e Aomori para pedir aos moradores que procurassem rapidamente um abrigo.

A companhia férrea East Japan Railways interrompeu seu funcionamento nas regiões por onde o míssil norte-coreano passou. No entanto, o exército japonês não ativou seu sistema aéreo de defesa para destruir o projétil por avaliar que não haveria um risco imediato à população.

No entanto, segundo o ministro da Defesa japonês, Yasukazu Hamada, o país não exclui a possibilidade de preparar uma resposta à Coreia do Norte. Apesar da Constituição pacifista do país, Tóquio debate um eventual ataque, caso se depare diante de uma ameaça militar.

 

Teste viola resoluções da ONU

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, condenou “fortemente” o teste. “Este é um ato de violência após o recente disparo repetido de mísseis balísticos”, disse.

O presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, denunciou uma “provocação” que viola as resoluções da ONU e defendeu uma “resposta firme”. O líder também pediu a adoção de medidas em cooperação com os Estados Unidos e a comunidade internacional.

O Comando dos Estados Unidos para a região Indo-Pacífico condenou o lançamento norte-coreano e reafirmou seu compromisso com a defesa do Japão e da Coreia do Sul. O conselheiro americano de Segurança Nacional, Jack Sullivan, conversou com autoridades sul-coreanas e japonesas para elaborar uma “resposta internacional apropriada e robusta”, anunciou a Casa Branca.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, chamou o disparo de “agressão injustificável” e afirmou que a União Europeia “é solidária ao Japão e à Coreia do Sul”. Para ele, essa é uma “tentativa deliberada” de abalar a segurança na região.

 

Modernização do arsenal norte-coreano

Com as negociações entre Washington e Seul paralisadas há anos, Kim Jong-un redobrou seus esforços para modernizar o arsenal da energia nuclear e implantou um número recorde de testes de armas. Na semana passada, Pyongyang disparou até quatro mísseis balísticos de curto alcance, um deles poucas horas após a visita da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, a Seul.

Paralelamente à escalada de testes na Coreia do Norte, Seul, Tóquio e Washington intensificaram seus exercícios militares conjuntos. Há alguns dias, Seul e Washington realizaram treinamentos navais em larga escala na península e planejam para sexta-feira (7) manobras submarinas com o Japão, as primeiras em cinco anos.

Para Park Won-gon, professor de Estudos Norte-Coreanos na Universidade Ewha, de Seul, Pyongyang está extremamente descontente com os exercícios conjuntos e quer enviar uma mensagem aos Estados Unidos. “Os mísseis, capazes de transportar ogivas nucleares, colocam a Coreia do Sul, o Japão e a ilha americana de Guam [no oceano Pacífico] dentro de seu alcance”, mostrando que Pyongyang pode atacar bases americanas com armas atômicas se uma guerra começar na península coreana.

Washington e Seul vêm alertando há meses que o país comunista está preparando um novo teste de uma arma nuclear, o sétimo apenas neste ano. Segundo os governos americano e sul-coreano, isso pode acontecer logo após o Congresso do Partido Comunista da China, em 16 de outubro.

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