Do Diario de Pernambuco
Foto: Narinder Nanu/AFP

Em um ofício enviado à secretária de Saúde de Manaus, Shadia Hussami Hauache Fraxe, o Ministério da Saúde pressiona a gestão municipal a utilizar medicamentos antivirais orientados pelo Ministério da Saúde contra a Covid-19. O documento é assinado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Isabel Correia Pinheiro, e diz ser “inadmissível” a não adoção da referida orientação.

A pasta federal tem orientado a utilização de medicamentos como ivermectina e cloroquina, ambos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, não sendo considerados como tendo potencial efeito antiviral contra Covid-19. Mas em nota informativa com orientações do MS “para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19” (nota informativa nº17/2020), de agosto do ano passado, a pasta orienta o uso de cloroquina e azitromicina para o tratamento de paciente com sintomas leves da Covid-19.
Na nota, o ministério justifica que considera “a larga experiência do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de outras doenças infecciosas e de doenças crônicas no âmbito do SUS, e a inexistência, até o momento, de outro tratamento eficaz disponível para Covid-19”, e também considera “a necessidade de orientar o uso de fármacos no tratamento precoce” da doença.
No ofício enviado à secretária de Manaus, Mayra Isabel ainda solicita autorização para que pudesse realizar na última segunda-feira (11) “visita às unidades básicas de saúde destinadas ao atendimento preventivo à Covid-19, para que seja difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.
“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus, a não adoção da referida orientação”, pontuou.
 
Precoce
Em pronunciamento durante a visita a Manaus, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reforçou o tratamento precoce contra a Covid-19, frisando que o diagnóstico da doença deve ser feito pelo médico e que os exames laboratoriais ou de imagem são complementares. Além disso, o ministro afirmou que a prescrição de uma medicação pode ser feita pelo médico antes dos resultados dos testes.
“O diagnóstico é do médico, não é do exame, não é do teste, não aceitem isso. (…) o exame laboratorial, o teste é complemento do diagnóstico médico, até porque a medicação pode e deve começar antes desses exames complementares. Caso o exame lá na frente, por alguma razão, dê negativo, ele reduz a medicação e está ótimo. Não vai matar ninguém, pelo contrário, salvará no caso da covid”, indicou Pazuello.
A reportagem solicitou resposta ao Ministério da Saúde na manhã desta terça-feira (12), e a pasta informou que dará retorno em breve.
OMS
No site da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, a Opas afirma que “não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina) sejam eficazes e seguros no tratamento da Covid-19”. Apesar disso, a organização ressalta que todo país é soberano para decidir protocolos clínicos de uso de remédios.
“As evidências disponíveis sobre benefícios do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento”, diz o texto publicado no site da Opas. Dessa forma, a organização recomenda que estas medicações apenas sejam usadas “no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis”.