Do Diario de Pernambuco 
A ideia de ver Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, levantando do túmulo um cartaz com os dizeres “aumenta o recreio” é, no mínimo, inusitada. Agora, imagine que essa cena saiu da cabeça de uma criança de menos de 9 anos de idade. Foi isso que aconteceu na Escola da Serra, em Belo Horizonte (MG), onde uma turma com alunos entre 6 e 9 anos fizeram cartazes e protestaram pelo aumento do tempo do recreio.
As imagens foram divulgadas no perfil da psicóloga Isabela Cadete, de 27 anos, que atua como auxiliar de supervisão pedagógica na Escola da Serra. Não demorou muito para que a postagem surpreendesse usuários do Twitter. “Brinquei hoje que o cartaz virou nossa Mona Lisa, hoje educadores tiraram fotos ao lado do cartaz muito orgulhosos das pessoas que estamos formando ali”, conta Isabela.
Em entrevista ao Correio, Isabela contou que a inspiração do desenho com Paulo Freire pode ter vindo de uma conversa com um auxiliar de sala que explicou para os alunos a importância do filosofo, cujo centenário está sendo comemorado em diversas escolas pelo Brasil. “Ele respondeu algumas coisas pontuando o quanto Freire falava sobre a liberdade no ensinar e no aprendizado”, diz.
Na Escola da Serra, devido às restrições da pandemia ainda vigentes, crianças e adolescentes têm 30 minutos de recreio. O tempo costuma ser dividido em 15 minutos só para comer (não é permitido brincar e conversar sem máscara) e brincadeiras no pátio. Mas as crianças acham que é pouco tempo para fazer as duas atividades. A decisão sobre a ordem de comer ou brincar parte dos próprios estudantes.
Isabela conta que esse não foi o primeiro protesto dos alunos, que costumam realizar pequenas manifestações de forma espontânea, por meio de bilhetes e desenhos. Em 2017, quando apareceram diversos casos de suicídios juvenis no Brasil incentivados pelo jogo Baleia Azul, “os alunos sentiram necessidade de alertar os colegas sobre o que se passava ali e que não valia a pena brincar daquilo.”
A psicóloga garante que a manifestação foi levada a sério pela direção da escola. “Esse tipo de manifestação é sempre bem-vinda. É assim que a escola funciona, ouvindo os alunos também. O corpo estudantil tem tanta voz quanto os educadores, é uma parceria. Desconheço quem não tenha adorado”, conta.
A escola realizou uma assembleia com professores e alunos para discutir a petição que foi atendida e as crianças conseguiram mais tempo para brincar. “A escola está em formato de bolhas, seguindo o protocolo da prefeitura de BH (as crianças de salas diferentes não participam do recreio juntas). Foi decidido que o tempo de pátio seja ampliado em três dias diferentes na semana para que cada turma possa aproveitar. Assim, houve aumento de 15 minutos para brincar. Uma grande vitória.” explica Isabela.