Crianças – Foto: Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

Por Folha de Pernambuco

As crianças que vivem perto de um espaço verde, como um parque, jardim ou floresta, têm maior probabilidade de ter ossos mais fortes e saudáveis, de acordo com um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Hasselt, na Bélgica, e publicado na revista científica JAMA Network Open.

O trabalho é o primeiro deste tipo e apoia evidências anteriores de que adultos que vivem em áreas mais verdes também tendem a ter maior resistência óssea.

Os pesquisadores analisaram 327 crianças com idades entre os 4 e os 6 anos e descobriram que aquelas expostas a mais espaços verdes num raio de 300 m a 3 km ao redor da residência apresentaram densidade mineral óssea significativamente maior.

Entre as crianças que vivem nestas áreas, uma caminhada de cerca de dez minutos até um espaço verde com árvores altas ou arbustos foi associada a ganhos de densidade óssea equivalentes a meio ano de crescimento natural. Além do mais, as crianças que viviam nas áreas mais verdes e a uma distância de 20 minutos a pé de um espaço verde alto tinham um risco 61% menor de ter baixos índices de densidade óssea.

Os resultados foram consistentes em ambos os sexos, mesmo tendo em conta uma série de outros fatores, incluindo peso, etnia, tempo diário de tela, suplementação vitamínica, consumo de lacticínios, estação do ano, nível educacional materno e rendimento médio anual do bairro — todos os quais já se mostraram capazes de impactar na densidade óssea de uma criança.

“Essas descobertas destacam a importância da exposição precoce a espaços verdes residenciais para a saúde óssea durante períodos críticos de crescimento e desenvolvimento, com implicações de longo prazo”, escrevem no estudo a epidemiologista ambiental da Universidade de Hasselt, Hanne Sleurs e colegas. “Apesar das evidências crescentes sobre os benefícios para a saúde da exposição a espaços verdes, os estudos disponíveis sobre a associação com a densidade mineral óssea são escassos”.

O desenvolvimento do esqueleto humano na infância é crucial, pois estabelece uma base sólida para a saúde óssea futura. Apesar da aparência sólida e inanimada do nosso esqueleto, o osso é um tecido vivo que aumenta gradualmente em densidade no início da vida, atingindo o pico em meados dos 20 anos. Uma dieta nutricional equilibrada e atividade física, especialmente exercícios de levantamento de peso e resistência, são partes importantes para criar ossos fortes e densos que durarão o máximo possível.

Quanto mais alta a vegetação, melhor

As evidências sugerem cada vez mais que viver perto da natureza traz benefícios impressionantes para a saúde mental, cardíaca, imunológica e vascular. Em algumas partes do mundo, os médicos começaram até a prescrever caminhadas pela natureza aos seus pacientes, juntamente com outras recomendações habituais, como atividade física e uma dieta nutricional e bem equilibrada. Curiosamente, porém, alguns estudos descobriram que o tipo de espaço verde que uma pessoa está cercada é importante. O acesso à vegetação alta, como árvores, parece trazer mais benefícios.

Com tudo isso em mente, os pesquisadores investigaram como os espaços verdes urbanos, suburbanos e rurais com vegetação acima e abaixo de 3 metros de altura impactavam a densidade óssea das crianças locais.

Os dados que utilizaram provinham de um estudo local de coorte de nascimentos, que acompanhou a saúde dos pares mãe e filho durante os primeiros quatro a seis anos de vida da criança. A maioria destas crianças eram ricas e de ascendência europeia, passavam uma ou duas horas diárias diante de telas e comiam pelo menos um laticínio por dia (uma fonte fácil de cálcio).

Seus endereços residenciais foram geocodificados para verificar áreas verdes. Analisando e comparando os dados, os pesquisadores descobriram que espaços verdes com vegetações altas num raio de 500 metros da casa de uma criança estão associados ao aumento da densidade mineral óssea. Porém, se um espaço verde semelhante estiver a apenas 100 metros de distância, esse benefício não aumenta mais.

“Assim é plausível que nossos participantes fossem mais propensos a caminhar de casa até o espaço verde disponível e acessível mais próximo (por exemplo, parque, jardim ou floresta) dentro de 500 a 1.000 metros ao redor da residência”, sugerem os autores.

O estudo de coorte de nascimentos não coletou informações detalhadas sobre a frequência e a duração do exercício ao ar livre, portanto o tempo de tela foi usado como base para o comportamento sedentário. É necessário que novas pesquisas sejam feitas para continuar investigando por que os espaços verdes podem trazer benefícios para a saúde óssea.